Clássicos fazem festa pelo Brasil. Em Campinas, dérbis com paz de cemitério. Até quando?

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Assisto aos clássicos do Campeonato Brasileiro. O Internacional ganha do Grêmio por 1 a 0 e o Beira Rio está lotado de Colorados, mas os gremistas têm seu espaço reservado. Na semana seguinte, o Mineirão recebe um confronto sem emoções entre Atlético Mineiro e Cruzeiro. Atleticanos com seu lugar, assim como os cruzeirenses. Nos clássicos cariocas, apesar dos casos de violência, tão bem retratados pelo sociólogo Maurício Murad, tanto o Engenhão como Maracanã e em Brasilia as cores estão presentes.

E no estádio de São Paulo? O promotor Paulo Castilho, os dirigentes, jornalistas e formadores de opinião comemoraram a “paz de cemitério”. Jogos com torcida que, no fundo, é o reflexo do egoísmo reinante em cada um. O promotor resolve o seu entrave de lutar contra a violência ao retirar os torcedores adversários do gramado e não com educação.

O pai e o filho vão ao estádio, mas dane-se que o adversário não pode ir. “Ah, mas no próximo ele vai”. Com todo o respeito, desculpa esfarrapada para quem não deseja estudar, debater e tomar medidas que eduquem o torcedor em médio e longo prazo.

Educar dá trabalho. Reconheço. Dar exemplos e mudar comportamentos por intermédio do convencimento é muito mais difícil. Punir e segregar é mais fácil e cômodo.

Se você comemora eu queria lhe dar dois avisos. O primeiro é que, na prática, o poder público lhe diz que bugrinos e pontepretanos não podem conviver no mesmo espaço. Não porque sejam violentos (todas as torcidas tem seus baderneiros, 6% no total), e sim porque os gestores não encontram maneiras de evitar o pior. Se fosse um processo inexorável, como explicar então os estádios com duas torcidas nos principais clássicos fora do estado de São Paulo?

A violência não acaba. Claro, você comemora porque acabou dentro do estádio. Com todo o respeito, tal posição é uma visão egoísta e individualista. No primeiro turno, tivemos uma morte registrada. Quem me garante que nos outros dérbis o processo não irá se repetir? Triste é constatar a nossa preguiça jornalística. Apresentamos os policiais como heróis, os promotores como donos da razão e fica nisso.

Heloísa Reis é especialista em violência no futebol, lotada na Unicamp e nunca, jamais nenhum veículo de comunicação em Campinas lhe ouviu sobre sua visão sobre o tema. Mauricio Murad, por sua vez, só foi ouvido por este Só Dérbi – relembre aqui. São pessoas que dedicaram anos, estudos e atitudes práticas para educar e combater a violência no futebol.

O que justifica a ausência destas vozes? Preguiça? Inveja por eles serem mais capacitados para falarem no assunto e nós, jornalistas, passarmos vergonha? Queria uma resposta.

A frase dura e real é a seguinte: violência no futebol não se combate com medidas cômodas. É com estudo, leis rigorosas e um trabalho do estado para que todos possam usufruir desta grande festa chamada futebol. O resto é palco para vaidade e comportamentos vazios.

(análise feita por Elias Aredes Junior)