Como o dinheiro interfere nos destinos de Ponte Preta e Guarani na Série B

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Não existe assunto mais polêmico do que o dinheiro. Pensador e intelectual de fina estampa, o jornalista  Millor Fernandes dizia que “O dinheiro não é tudo, tudo é a falta de dinheiro”.

A bíblia sagrada por sua vez, no livro de Provérbios, no capitulo 17, no versículo 16 afirma que “De que serve o dinheiro na mão do tolo,já que ele não quer obter sabedoria?”. São duas frases dispares, mas que demonstram de modo cabal o quadro vivido por Ponte Preta e Guarani e por todo o futebol brasileiro.

Millor Fernandes dizia que tudo é falta dinheiro. Na Série B essa é uma verdade irrefutável. Na atual classificação da Série B do Campeonato Brasileiro, os quatro primeiros colocados são Cruzeiro, Vasco, Bahia e Grêmio. Coincidência ou não, eles estão entre as maiores folhas de pagamento.

O Grêmio tem folha salarial de R$ 10,5 milhões mensais; o Vasco da Gama marca o valor de R$ 3,5 milhões; mesmo com os problemas financeiros, o Cruzeiro, lider da competição, gasta mensalmente R$ 2,7 milhões com salários, enquanto o Sport Recife, o atual quinto colocado, gasta aproximadamente R$ 2,1 milhões com atletas e comissão técnica. O Bahia, por sua vez, gasta R$ 1,9 milhão mensais e está no G-4.

Ou seja, podemos afirmar com segurança que pelo menos nesta edição o poderio econômico faz uma baita diferença. Fica mais distante o cenário em que se permitiu o acesso de equipes como Ipatinga, Santo André, América de Natal e de outras equipes de menor cotação.

Isso é bom ou ruim para a competição? Em primeiro lugar porque abre a possibilidade de um debate mais profíquo sobre a distribuição e o valor das cotas de televisão. A má qualidade do espetáculo está ligado diretamente ao parco poderio financeiro oferecido pelo atual contrato.

Infelizmente, com uma folha salarial de 10 milhões de reais mensais e com jogadores do porte de Diego Souza e Ferreirinha, além da zaga formada por Kanemann e Geromel, só um desastre de proporções épicas para tirar o Grêmio da primeira divisão em 2023. Mesmo com atuações de baixo nivel. Afinal, como competir se você tem á disposição uma cota de televisão com valor de, no máximo, R$ 10 milhões para o ano todo? Não dá.

Então, no cenário geral, a frase de Millor Fernandes faz muito sentido. Tudo é falta de dinheiro.

O trecho da Bíblia Sagrada é um ensinamento a céu aberto. Especialmente para Ponte Preta, Guarani e suas respectivas diretorias.

Perceba: excetuando-se os gigantes, a dupla campineira, ao lado de Novorizontino e Ituano, são as únicas equipes que neste ano tiveram a disposição uma cota polpuda para disputar o respectivo campeonato regional.

Ou seja, enquanto Tombense, Náutico, Vila Nova, Criciuma – que disputa a segunda divisão simultanea, Chapecoense e outros concorrentes fazem contas para sobreviver nos primeiros meses do ano, devido a ausência de recursos para disputar a competição regional, Ponte Preta e Guarani tiveram condições de buscar montar um elenco competitivo e que pelo menos proporcionasse um elenco para que, caso desse tudo errado, a permanência nas competições fossem obtidas sem sustos.

Tanto que a estimativa é que as folhas dos dois clubes ultrapasse R$ 1 milhão de reais. Ou um pouco abaixo deste patamar. O que foi colhido? Choro e ranger de dentes.

O que aconteceu? O fracasso tem explicações distintas. Na Ponte Preta, a nova diretoria, apegada a conceitos de futebol do passado colheu como primeiro fruto amargo o rebaixamento à Série A-2 do Campeonato Paulista. Mesmo assim, boa parte dos conceitos foram mantidos na sequência da temporada.

Resultado: briga contra o rebaixamento na Série B. Tem conta bloqueada? Ex-dirigentes sabotam o dia a dia do clube?Também é verdade. Mas a Macaca tinha condições que, mesmo com recursos reduzidos, fazer uma temporada melhor do que está fazendo.

Quanto ao Guarani, o caso compara-se ao do funcionário que ganha o décimo terceiro salário e ao invés de poupar e pagar conta resolve gastar com aquilo que não interessa. Gastou muito e mal. Está na zona de rebaixamento por incompetência na montagem do elenco e por não saber fazer as escolhas adequada na reposição das saídas de jogadores como Régis, Andrigo e Bruno Sávio. Ou seja, não existiu sabedoria.

A Série B é um caminho tortuoso. Cheio de armadilhas. E quem não é esperto simplesmente é sugado e tragado pela própria ineficiência.