Discursos movem o mundo. Palavras são capazes de contagiar e espalhar esperança. Ou tragédia. O futebol não é desconectado. Entrevistas coletivas são como um jogo de palavras. Troque o gramado pelo microfone. Uma frase feliz e a virada será inevitável. Diga algo falho e pagará pecados. Lisca absorveu a lição. Sabe da sua responsabilidade no gramado e que os 10 confrontos do Guarani são disputados no dia a dia, a cada treinamento ou entrevista.
Perdido no mar de declarações ditas na sua apresentação ocorrida na segunda-feira, uma chamou atenção. “O treinador é o representante do torcedor. Eu vibro muito, odeio perder, não durmo e não como. A derrota faz parte, tem que saber trabalhar. Mas é entrega, vibração”, disse. Pode parecer algo banal em virtude das toneladas de frases ditas cotidianamente no mundo da bola. No Guarani, ganha novo significado.
Por que? Nos últimos 18 anos, o torcedor bugrino está ferido. Machucado. Trucidado. Não só pelas derrotas dentro do gramado, mas porque em algumas ocasiões ele não se reconhece nem no gramado, no gabinete ou no banco de reservas. Pessoas frias, distantes, por vezes sem conhecer a história do clube desembarcaram com a promessa da fórmula mágica sem ao menos exibir sensibilidade para detectar o sentimento, a exigência de quem senta na arquibancada.
Como esquecer Branco durante o Campeonato Paulista de 2013? Ou até Mauricio Barbieri na última Série A-2? O primeiro com a linguagem do boleiro, mas sem capacidade para inverter um quadro que naquela ocasião já era dramático. O segundo, com boa base teórica, modelo de jogo definido, mas tão distante que parecia dirigir uma outra equipe.
Pode dar errado? Pode porque o futebol é cruel. Só que nesta simples frase, Lisca transmite ao torcedor o que ele quer e precisa ouvir: o seu sofrimento é absorvido pelo técnico, a sua obsessão é aquela presente de quem passa o ingresso na catraca.
Mais do que táticas, estratégias de jogo e jogadores vencedores, o Guarani precisa de calor humano. Será primordial para conseguir uma meta que parecia fácil de alcançar antes da largada da segundona. Ainda dá para buscar um final feliz.
(análise feita por Elias Aredes Junior)