Quem comemora o cerco as torcidas organizadas desconhece a história da Ponte Preta

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Torcedores desavisados, jornalistas elitistas, dirigentes sem lastro histórico e integrantes do poder judiciário celebram que o confronto de domingo diante do Fortaleza, no estádio Moisés Lucarelli, será o primeiro do projeto experimental da Federação Paulista de Futebol (FPF) em que os torcedores organizados serão isolados e sem contato com os outros setores do estádio.

Não vou gastar o meu latim ao descrever que aquilo detectado como revolucionário a primeira vista é nada mais nada menos do que uma atitude preguiçosa para deixar de atacar os principais problemas da violência nos estádios. Se contarmos todos os integrantes das torcidas organizadas, apenas 6% são responsáveis por atos de violência de acordo com o sociólogo Mauricio Murad.

Ao invés de ações educativas de médio e longo prazo e endurecimento das penas, parte-se para uma estratégia que, no fundo, quer apenas e tão somente criminalizar seus integrantes. Seria o mesmo se seu irmão fosse um criminoso e a Polícia entrasse na sua casa e prendesse o seu parente, mas também todos da família, inclusive você. Motivo: estava com o delinquente no ato da prisão. Pouco importa se você for inocente.

O mais grave nem é essa estratégia segregacionista. Pior é que quem aplaude tal expediente prova que não conhece a própria trajetória do clube.

Você, raivoso contra as torcidas organizadas, deveria saber que o hino oficial do clube, de autoria de Renato Silva, foi originariamente composto para a Torcida Jovem em meados da década de 1970. A TJP é uma filial do Lions Club por uma acaso? Nada disso. É uma torcida organizada. Se contarmos as epopeias de acesso em 1989 na Divisão Intermediária do Paulistão, em 1997 na Série B do Brasileirão e mesmo nos últimos acessos em 2011 e 2014 não há como desprezar o papel de todas as torcidas na montagem de caravanas e mobilização de torcedores.

O que dizer então da atual estrutura da Ponte Preta, que conta com ex-membros dessas entidades? Cláudio Henrique Albuquerque, é sabido por todos, tem sua origem nas torcidas organizadas.

Pergunto: como ele e outros, com o histórico dentro destas entidades, permitem esta criminalização inconsequente e sem uma análise criteriosa para separar o joio do trigo? Porque em qualquer pesquisa realizada em ambiente acadêmico o perfil detectado é o mesmo: pessoas pobres, em sua maioria desempregadas e que viram nas organizadas a única saída para conviver e acompanhar o seu time de coração.

Ninguém pede impunidade aos que cometem crimes. Nada disso. Estes devem ser detectados e punidos. Nossa provocação tem a meta de instigar a mente do torcedor e fazê-lo entender que os malfeitores devem ser presos e punidos e a instituição deve ser preservada.

A Ponte Preta é um clube popular, de massa, de operários, negros e pobres. Você pode esbravejar e até soltar impropérios preconceituosos, mas não evita a constatação de que as torcidas organizadas fazem parte da linha do tempo da Macaca. Expurgá-las nada mais é do que um preconceito velado contra quem conta o dinheiro suado para assistir ao seu time do coração. E deveria ter o direito de sentar onde quiser. Longe ou próximo da torcida organizada.

(análise feita por Elias Aredes Junior)