Uma reflexão sobre Pintado, Ponte Preta, falas homofóbicas e a hipocrisia reinante em todos nós

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Pintado foi apresentado como técnico da Ponte Preta. É um profissional que pode cair nas graças do torcedor. É agitado na beira do gramado, tem personalidade forte e experiência com Série B. Já conseguiu subir o Juventude em 2020/2021. Se tudo correr dentro dos conformes, é alguém capaz de fazer um trabalho de longo prazo e cumprir os objetivos estabelecidos, que é a de obter a permanência na Série B, realizar um bom Campeonato Paulista e disputar a segundona nacional com nível competitivo.

O desembarque de Pintado é uma mudança de perfil da Diretoria Executiva, leia-se Marco Antonio Eberlin. Que gosta e prefere lançar novos treinadores. Foi assim com Marco Aurélio, Nenê Santana e outros que projetou ainda mais, como Nenê Santana. O tempo, os resultados, e a produção no gramado impediram que fizesse o mesmo com Felipe Moreira. Paciência.

Agora, vai trabalhar com um profissional tarimbado. Pintado conhece o futebol paulista e a própria Ponte Preta, pois tem sua base em Bragança Paulista. Esse é o lado positivo de Pintado. Pode ainda recuperar jogadores. Não é pouco.

FALAS HOMOFÓBICAS E A HIPOCRISIA DE TODOS NÓS

Pintado, tão tarimbado e profissional da bola, marcou um gol contra logo de largada. No intervalo antes de começar a entrevista coletiva ao lado de João Brigatti, ele disse: “Não vou sentar muito perto. Já joguei no São Paulo. Vai que pensam alguma coisa”, disse o treinador, com histórico de treinador e jogador no tricolor paulista.

Seria muito fácil eu chegar aqui e descascar o técnico. Evidente que ele errou. Lógico. Mas não podemos esquecer de algo essencial: nessa pequena frase, Pintado apenas refletiu aquilo que é o ambiente do futebol brasileira e da própria sociedade brasileira. Justifica? Não. Longe disso. Mas explica muito.

Todos, nós, sem exceção somos homofóbicos. Racistas. Misóginos. Preconceituosos. Sim, você mesmo. A diferença é que alguns não reconhecem. Outros buscam desconstrução. 

Para começo de conversa: você que está aí, criticando o técnico pontepretano, o que você faz para combater a homofobia? Quantos amigos você tem com essa orientação sexual e concede apoio? É contra o racismo?

Ok. Ótimo.

Maravilhoso.

Qual a sua contribuição efetiva para combater isso? Conheço gente que fala aos quatro cantos ser contra o racismo, mas as suas fotos em redes sociais só predominam pessoas brancas. Ou seja, você apoia a luta dos negros. Desde que eles fiquem longe de você.

Por que faço essa análise? Porque  mesmos que apontam o dedo para Pintado também dão risada de piadas homofóbicas, não conversam com a população LGTQIA+ e fazem vistas grossas para atos de violência contra essa população.

Reafirmo: a fala de Pintado é lamentável. E confesso: estava na hora e não prestei atenção. Você pode argumentar: “por que não repreendeu? Por que não repreendeu na hora”. Simples: sou repórter e jamais pajem de gente adulta. 

Evidente que a frase deveria merecer um pedido de desculpas ou retratação. Mas isso não pode apagar a hipocrisia daqueles que dizem lutar por uma sociedade mais justa, mas no cotidiano caem nos mesmos pecados. A diferença é que ninguém está gravando. Simples assim.

(Elias Aredes Junior-Com foto de Diego Almeida-Pontepress)