Como o torcedor pontepretano alienado encara a queda para a Série B

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Somos humanos. Falhos. Temos dificuldades em assumir fracassos. É uma admissão de culpa da nossa finitude. Engana-se quem imagina o futebol distante deste cenário. Especialmente em caso de rebaixamento. Nos últimos dias, o silencio impera no Moisés Lucarelli. Nenhuma palavra. Nenhuma declaração. Em contrapartida, justificativas surgem para defender os protagonistas do vexame. Nos últimos dias, perdi a conta de torcedores com os quais conversei. Em um ato de amor e desespero, não aceitava eleger vilões da queda. Um típico torcedor alienado. Asseguro: não são poucos.

Muitos torcedores defendem Gustavo Bueno e afirmam que seu trabalho foi prejudicado pela falta de recursos por parte da presidência. O torcedor alienado alega que Gustavo deveria ser ovacionado pela campanha do Brasileirão de 2016. Foi ele quem trouxe Felipe Azevedo, Roger, Pottker, Clayson, entre outros. Logo, o saldo é positivo.

Com a paciência esgotada, o jeito é relembrar ao torcedor alienado que deveria mirar o canhão em cima do diretor de futebol, Hélio Kazui, qué não falou, declarou ou justificou nenhum fracasso em 2017. Certamente, este torcedor dirá que o noviciado dele no mundo da bola lhe isenta de culpa. Mais: que sua atuação nos bastidores não é vista e que evitou muitos conflitos e que será essencial na próxima gestão.

O torcedor alienado isenta o presidente Vanderlei Pereira. Como deixar de cobrar um dirigente capaz de contratar um jogador como Xuxa, sem condições de disputar a divisão de elite? Nada disso. Esqueça. O torcedor alienado aparecerá para lhe lembrar do talento de Vanderlei para os números, a eficiência de deixar as contas em dia, entre outros atributos. Irritado no último grau e com sede de constatar quem é o culpado pela debacle no gramado, algum detrator elege Sérgio Carnielli como inimigo número e responsável direto pela queda. O torcedor alienado vai apresentar um contraponto surrado e quase vencido, mas eficiente: Carnielli tirou a Ponte Preta da miséria há 20 anos, mantém ela de pé e, por isso, não pode ser cobrado e nem estigmatizado. Afinal, nem pode ser encurralado porque está destituído do poder.

Você respira fundo e argumenta: os treinadores foram os encarregados pela desgraça do Majestoso. Missão frustrada. O torcedor alienado aparecerá para relembrar que Gilson Kleina foi vice-campeão Paulista e após sair de Campinas teve sucesso na Chapecoense. Eduardo Baptista? Errou o alvo. De novo. Ok, o alienado pontepretano vai admitir que colocar Rodrigo como titular foi um erro crasso. Mas vai dizer que quando o técnico chegou o time já estava em queda livre e sua performance na Macaca em 2016 atesta sua competência.

Ah, então os jogadores estão no topo da cadeia do revés? Na visão do torcedor alienado não é bem assim. Eles foram contratados, não pediram para encontrar-se ali e não podem ser eleitos como algozes.

Ao final, o torcedor alienado tenta lhe convencer que o rebaixamento foi fruto do acaso, um acidente de percurso ou deslize divino. E dá um sorriso que prenuncia novos tempos de fuga da realidade. Sorte dos vilões do rebaixamento.

(análise de Elias Aredes Junior)