Temos menos de 10 dias para o início do Campeonato Paulista. A Ponte Preta prepara-se para a estreia contra o Corinthians, no Pacaembu, e lambe suas feridas.
Precisa conviver com a ideia de disputar a Série B do Brasileirão, de encarar mais quatro anos de administração de um mesmo grupo político e o rebaixamento no investimento.
O quadro negativo ainda traz no bojo o aumento do poderio dos times grandes, a invasão das equipes estrangeiras e a disputa de preferência com Barcelona, Real Madrid, Manchester e times internacionais.
Com tantos fatos adversos, o que leva alguém a torcer pela Ponte Preta? Que espírito que faz com que milhares de pessoas, todos os finais de semanas, desafiem a lógica e abracem esta paixão transmitida de pai para filho?
Parece uma pergunta fácil de responder. Não é. A alma humana é capaz de ciladas e travessuras impossíveis de segurar. Decisões por vezes fundamentada em aspectos concretos ou subjetivos. Ser pontepretano no século 21 engloba os dois fatores.
Ser pontepretano é um fator de integração à cidade de Campinas. Sua torcida, a mobilização, o estádio Moisés Lucarelli e seu simbolismo, a luta contra o preconceito racial e a coragem são aspectos integrados às características campineiras. Um passaporte para integrar-se ao seu cotidiano.
Os Aredes, por exemplo, vieram para Campinas a partir do final da década de 1950 e todos os componentes do clã, apesar de terem um time da capital adotado quando moravam em Guarantã, interior de São Paulo, abraçaram a Ponte Preta.
Não foi diferente com mineiros, paranaenses, baianos, sergipanos, cariocas, mato-grossenses e gente de toda a parte do Brasil que largam o “primeiro amor” e ficam hipnotizados pela história e os heróis da alvinegra, como Dicá, genuinamente campineiro e capaz de produzir manchetes e campanhas memoráveis na década de 1970.
Uma agremiação que ousou revelar atletas e estes defenderam a camisa da Ponte Preta na Copa do Mundo de 1978. Oscar, Polozzi e o goleiro Carlos eram da alvinegra na ocasião.
A única equipe do interior que viabilizou três jogadores em uma mesma Copa do Mundo. Um feito jamais igualado. Como deixar de sentir orgulho diante desta façanha?
Torcer pela Ponte Preta é uma forma de preservar a própria personalidade. De mostrar opinião e postura nos mínimos detalhes. Em Campinas, quantos pontepretanos não tem qualquer receio de encarar palmeirenses, santistas, corintianos e são paulinos e demonstrarem com vigor a paixão por um clube centenário, capaz de proezas como a de colocar 30 mil fanáticos torcedores no estádio do Pacaembu, em final de Copa Sul-Americana?
Existe um fator subjetivo e que, na minha visão, é responsável por mover o pontepretano em uma esperança infinita em busca de vitórias, conquistas e crescimento de seu contingente. Por mais que sejam times locais e com amplitude nacional, os 12 gigantes do futebol brasileiro transmitem uma relação de torcedor-clube. Ou de cliente-consumidor, como queiram.
Na Ponte Preta, não. Quem torce pela Ponte Preta sente-se proprietário dela. Não admite deixar de participar de seus destinos e decisões. Fica inconformado quando um pequeno grupo resolve trabalhar e decidir por todos.
O torcedor quer participar, opinar, debater, torcer, incentivar e pressionar. No fundo, no fundo, a explosão e a quebra do alambrado contra o Vitória foi a explosão do sentimento de uma parcela de uma torcida que não suportava mais ficar excluída das resoluções, enquanto erros e mais erros eram cometidos em nome de um profissionalismo errático e sem sentido.
Como já escrevi e disse anteriormente, seria como você ser proprietário de uma casa e o pedreiro fazer a obra sem ao menos lhe consultar.
Este turbilhão de sentimentos estará presente contra o Corinthians e até o final do ano. Assim como no filme “300”, estrelado por Rodrigo Santoro, o pontepretano sabe que está inferiorizado diante do batalhão louco para impedir os seus sonhos.
Não importa. O amor incondicional lhe faz sonhar, vencer e triunfar. A alma pontepretana é persistente. E sonha. Porque a Macaca está acima do próprio futebol. Acredite.
(análise de Elias Aredes Junior)