O futebol campineiro está condenado à mediocridade?

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A torcida do Guarani fica na expectativa para fugir da Série A-2. Com razão. A Ponte Preta vai para mais uma disputa do Torneio do Interior contra o Mirassol. Pego minha máquina do tempo e relembro duas passagens. Ambas com a mesma pessoa e que prefiro não declinar o nome. Na primeira disse que este colunista teria o ódio como companheiro e nunca alcançaria outros locais de trabalho. Motivo: “Ah, para triunfar no jornalismo tem que fazer média, falar aquilo que o torcedor quer”.

Ato imediato, ele na época não estava triste com o quadro vivido pelo futebol campineiro. O ano era 2009 e o Guarani tinha sido rebaixado no Paulistão e Macaca comemorado título do interior. “As duas torcidas tem é que se contentar com isso. Tem que a aprender a viver na mediocridade”. Luto contra a maré. Contra a mediocridade. O raso, superficial, aquilo que não tem nexo ou conteúdo.

Meio quixotesco ou sem sentido, mas a verdade é que luto contra um sentimento impregnado em parte das duas torcidas: o casamento com a mediocridade e o ostracismo.

Para muitos, a Macaca cair para a Série B é inexorável diante dos parcos recursos financeiros. O Guarani celebrar permanência na segundona nacional é uma vitória diante de anos e mais anos de rebaixamentos.

Espere um instante. Viver na lama não é a sina dos dois clubes. É o contrário.

Faça uma revisão histórica. O XV de Piracicaba já foi campeão brasileiro da divisão de elite? Já disputou Copa Libertadores de América? Já foi uma fábrica de craques? Teve representantes na Copa do Mundo? E o Mirassol, oponente da Ponte Preta? Lotou o estádio Olímpico em semifinal de Brasileirão? Colocou 30 mil pessoas no Pacaembu em decisão de Sul-Americana ? Ousou encarar em finais os gigantes do futebol paulista?

A realidade é que nós, dirigentes, torcedores e jornalistas em Campinas, ficamos acostumados a nos nivelar por baixo. Achamos que uma migalha é um banquete, sendo que já desfrutamos do filé mignon do futebol nacional.

Por que o quadro não muda? Simples: faltam ideias. Os torcedores brigam com jornalistas mas são incapazes de formular novos conceitos e projetos para tirar os dois clubes da mesmice. Os dirigentes funcionam no piloto automático. Não conversam, não debatem, não trocam ideias.

Pagar salário em dia virou virtude e não obrigação. Guarani e Ponte Preta mataram o plenário para a formação de dirigentes, o Conselho Deliberativo. E nós, jornalistas? Pois é, em locais de crise e cercados pela limitação intelectual, os cronistas esportivos deveriam ser os responsáveis em indicar caminhos, tendências. Também estamos no automático.

Que ninguém se iluda: Grêmio e Internacional ainda se contrapõem às toneladas de dinheiros dos clubes do eixo Rio-São Paulo em virtude da cobrança implacável da imprensa e a constante renovação dos dirigentes. E em Campinas? A cidade de 1,2 milhão de habitantes, terceira praça bancária do país e polo de tecnologia de ponta, vive um estado de letargia no futebol. Parece querer viver eternamente no quarto escalão no futebol. Esperamos que a largada da Série B desperte a todos para a missão que temos pela frente.

(análise feita por Elias Aredes Junior)