Nos últimos 15 anos, o Guarani conviveu com rebaixamentos, derrotas e frustrações. Sua torcida trocou o sentimento de orgulho pelo de amargurada. Dividas trabalhistas infinitas, desmandos administrativos, falta de liderança…a lista de mazelas é enorme. Existe um pecado maior, uma falha reinante no Brinco de Ouro e responsável por corroer a esperança restante das arquibancadas: a terceirização da culpa.
Neste século, o Guarani teve a presidência ocupada por José Luis Lourencetti, Leonel Martins de Oliveira, Marcelo Mingone, Álvaro Negrão e Horley Senna. Apesar da diferença de resultados e de estilos, todos tiveram uma característica em comum: nunca assumiram abertamente sua cota de participação nos fracassos. Nunca convocaram uma coletiva e disseram: “Desculpe torcedor, eu errei. Quero melhorar da próxima vez”.
A humildade, o reconhecimento de algo não vai bem foi substituído por uma prepotência protetora, capaz de dizimar o primeiro profissional que visse pela frente.
Pegue o atual drama bugrino. A equipe perdeu para Atlético Sorocaba e Barretos na reta final, viu o sonho do acesso escapar por entre os dedos e quem foram os crucificados? O preparador físico Tiago Vegetti e o fisioterapeuta Guilherme Pierozin. Ambos têm sua parcela de culpa? Claro, afinal todos ganham e perdem em uma estrutura de um time de futebol. Mas não são os protagonistas.
Estes são os jogadores, os dirigentes e a comissão técnica. Dos atletas não podemos falar nada. Eles falharam, fracassaram e logo após o jogo de domingo deram a cara para bater e deram suas explicações, seja com Pegorari, Fumagalli ou Tiago Carpini. O técnico Pintado, por sua vez, adotou um discurso conciliador e de pedido de desculpas ao fracasso no gramado. Digno.
Já completamos 48 horas da eliminação no gramado na Série A-2 do Campeonato Paulista e o qual a visão do presidente Horley Senna sobre este tema? E os ocupantes do Conselho de Administração e do Conselho Deliberativo? O que eles pensam? O que querem fazer para sacudir a estrutura? Qual o perfil de treinador para a Série C? A comissão técnica será inteira “estrangeira”? Haverá dispensa de jogadores? Quais? E o perfil dos reforços?
Em um mundo do futebol normal, a imprensa é utilizada como canal para prestar tais esclarecimentos. Ou até o site oficial ou as redes sociais. Como tais procedimentos não são abraçados até o momento pelos dirigentes bugrinos, o jeito é encontrar culpados para acalmar a fúria de uma torcida ferida por tantas decepções.
(análise feita por Elias Aredes Junior-foto de Rodrigo Villalba-Memory Press)