Uma análise com repúdio ao ato racista de um torcedor bugrino e a necessidade de enfrentar a questão de frente no Brinco de Ouro

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O jogo era para ser de festa. E foi. O Guarani conseguiu o acesso à primeira divisão do Campeonato Paulista. Está no lugar de onde nunca deveria ter saído. Mas isso não faz este jornalista ignorar a cena repugnante de um torcedor bugrino dirigindo ofensas racistas a um torcedor do XV de Piracicaba.

Em condições normais, o Guarani deveria ser punido. Ponto. Entretanto, penso que algo está na hora de ser encarado de frente, sem máscaras ou disfarces. Torcedores e dirigentes do Guarani precisam começar a discutir o estigma que segue a agremiação há décadas de ser uma torcida com integrantes racistas. Fugir disso é enxugar gelo.

A Ponte Preta, principal rival, só incorporou o apelido de Macaca porque os torcedores do Guarani lhe dirigiam ofensas racistas. Foi uma bela sacada, mas a marca ficou.

Quem conhece a história do Guarani sabe a importância de Jaime Silva, um negro. Se o estádio e o complexo do Brinco de Ouro vão salvar a sua vida, é porque Jaime conseguiu construir um patrimônio fabuloso. Pergunta: por que ele não é ovacionado e elogiado, assim como Leonel Martins de Oliveira e Luiz Roberto Zini? Pois é.

Vou mais além: Jorge Mendonça foi um dos principais jogadores da história do Guarani. E também não tem o devido reconhecimento.

O Guarani ainda convive, desde os anos 1980, com um incômodo estigma, a de que existiam obstáculos para que pessoas da raça negra fossem sócias do clube.

Todas estas premissas podem ser mentirosas? Incorretas?  Sim, pode. Mas o fato é que o cenário está forjado. Não há como fugir da constatação. O estigma existe. Por causa de meia duzia? Pode ser. O clube e a torcida nunca tiveram atenção para tal premissa.

Abre-se uma possibilidade para o Guarani e sua torcida fazer um acerto de contas com a história. Em primeiro lugar, expurgando todo e qualquer torcedor que demonstrar postura de discriminação racial. Seria de bom grado incorporar datas de luta da comunidade negra, como o dia 21 de março, Dia de Luta contra a Discriminação Racial e o dia 20 de novembro, Dia da Consciência. Futebol também é posicionamento.

Concordo que existem torcedores racistas em todos os clubes e associações. Mas alguns times tem um estigma muito mais marcado. Vide o Grêmio com seu histórico problemático e que até culminou com eliminação na Copa do Brasil.

Emitir nota oficial com repudio à atitude do torcedor é bom. Mas é pouco. Ou o Guarani como instituição e sua torcida entram para valer nesta luta ou este será um fantasma pronto para atormentar a cada entrada em campo em qualquer parte do Brasil.

(análise feita por Elias Aredes Junior)