A façanha de Sérgio Carnielli: recolocar Nivaldo Baldo no jogo político da Ponte Preta

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Vamos fazer uma viagem no tempo. Em 1996, a Ponte Preta viveu uma crise política sem precedentes. Após troca de farpas pela imprensa, Sérgio Carnielli e Nivaldo Baldo entraram em rota de colisão. O segundo encaminhou renúncia ao cargo de presidente e o empresário assumiu. Bastaram alguns anos, acessos e times bem montados para que o então vice-presidente da chapa e entronizado presidente se transformasse em um semideus. As arquibancadas ovacionavam o Messias, o salvador da pátria, o único capaz de conquistar um título a uma das equipes com maior tradição do Brasil.

Nivaldo Baldo caiu no ostracismo. Continuou a votar nas eleições, mas submergiu nos bastidores. Não era mais protagonista. Não opinava e nem falava publicamente da administração da Macaca. Fisioterapeuta consagrado, com prêmios e reconhecimento internacional, passou a dedicar a seus afazeres profissionais. Com razão.

No pensamento coletivo, Nivaldo Baldo ficou com a imagem de revolucionário, exótico e dono de nomenclaturas desconhecidas. Quem não se lembra de sua determinação em nomear um “Head Coach” para a Macaca? Com os bons resultados de Carnielli, suas ideias caíram na faixa do folclore.

Tudo perdido? Em circunstancia normal, sim. Duro quando os heróis são acometidos da sensação de que seus poderes lhe deixem imunes. Carnielli caiu na armadilha. Apesar de afastado pela Justiça, o mandatário ainda é influente. Pode até não ser obedecido, mas suas opiniões tem peso.

O efeito colateral foi devastador: a antipatia cresceu e hoje boa parte das torcida considera que Carnielli erra demais. Seu grupo político comete equívocos imperdoáveis.

Junte isso a falta de consistência da oposição. Não nas ideias, mas em lideranças capazes de contrapor ao poderio do presidente de honra, seja em carisma ou no poder de oratória.

O que acontece na última reunião do Conselho Deliberativo? O fato relevante nem foi a suspensão da sessão e a definição de uma comissão para analisar o balanço financeiro a tempo de viabilizar a aprovação até o dia 30 de abril.  Ninguém ignorou foi o bate boca entre Nivaldo Baldo e Sérgio Carnielli.

Um cenário que demonstra de maneira cabal a ingenuidade de Carnielli para o jogo político. Baldo nunca se afastou da Ponte Preta, mas estava comedido, sem adotar uma postura forte. Pois Nivaldo Baldo faz uma intervenção e ao invés de calar-se ou fazer uma defesa de seus feitos, Carnielli parte para o embate direto e pessoal. Resultado: Baldo caiu na boca do povo e eleito como porta voz daqueles que desejam denunciar os erros do atual grupo político.

Em 1996, Baldo uniu-se ao empresário para vencer as eleições. Após 22 anos, ele consegue ser recolocado no jogo político graças a um vacilo e ato impensado do adversário. Nem autor de novela faria melhor.

(análise feita por Elias Aredes Junior)