Bugrinos e pontepretanos em confronto. A violência no futebol precisa ser tratada de modo maduro. Antes que seja tarde!

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Durante meses e meses, a opinião pública de Campinas teve que aceitar o discurso das autoridades de segurança de que o dérbi com torcida única era a única solução. Só assim haveria paz e viabilizar a tranquilidade para fazer com que os pais de família frequentassem o Brinco de Ouro no primeiro turno e o Majestoso na reta final.

Deu tudo errado. Antes mesmo de a bola rolar, os torcedores inconsequentes comprovaram que não é uma medida unilateral que vai combater a violência.

Prova disso é que cinco torcedores do Guarani e quatro da Ponte Preta foram detidos nesta quarta, dia 25, após se envolverem em uma briga generalizada na avenida Norte Sul. Detalhe: tudo marcado pela internet.

Os relatos dão conta de que torcedores bugrinos estavam no Brinco de Ouro, onde foi iniciada a venda de ingressos para o dérbi e foram até sede de uma torcida pontepretana e arremessaram paus e pedra, algo tido como represália. Eis que o pobre jornalista pergunta: instituir torcida única resolve o histórico de violência entre as duas equipes? Não, não resolve.

Sei que os Policiais Militares e a Promotoria tomam as decisões com a maior das boas intenções. Querem resolver uma questão crônica, que se arrasta por anos e décadas. Com mortes dos dois lados.

Só que o episódio isolado comprova que a violência das duas torcidas é complexo para se resolver em uma canetada. Muitos não gostar do que vou escrever mas é preciso ser dito: a criminalização das torcidas organizadas não resolveu coisa alguma, seja em Campinas ou em qualquer cidade do Brasil.

É preciso entender que a violência no futebol é reflexo da sociedade violenta, excludente e individualista que vivemos. Mais: elitizada.

As torcidas arregimentam porque muitos adolescentes enxergam tais agremiações como única saída para acompanhar seu time do coração. E muitos permanecem com tal sentimento. Acompanham o time do coração e não se envolvem em confusões. É uma parte ínfima (no máximo, 6% do total) que se envolve em confusão.

Como inibir? Simples: planejamento conjunto e que envolva a presença de policiais, promotores e especialistas no tema, como a Professora Heloísa Reis, da Unicamp, ou sociólogo Maurício Murad.

A imprensa tem seu papel. Deixar de criminalizar as torcidas e apostar de que é possível sim separar o joio do trigo. E voltar a contar com as duas torcidas no estádio. Se a torcida única fosse a solução, como explicar que Atlético Mineiro e Cruzeiro aboliram a medida e nos Grenais temos até torcida mista?

Toco em outra ferida. É uma hipocrisia gigantesca ignorar a participação das torcidas organizadas na construção da história de Ponte Preta e Guarani.

Ou alguém terá coragem de dizer que as caravanas da Torcida Jovem nunca existiram? O que dizer então do hino oficial da Ponte Preta, de autoria de Renato Silva e feito originariamente para uma torcida organizada?

O que dizer do Guarani e das festas realizadas pela Guerreiros da Tribo nas arquibancadas na década de 1980? Vou além: quem nunca prestou atenção na faixa invertida da Fúria Independente nos estádios? Pois é.

A punição aos envolvidos precisa ser severa. Impossível ignorar o reforço da segurança até no dia do jogo. Mas a confusão desta quarta-feira já deu o aviso: não é com canetada e medidas adotadas sem o envolvimento da sociedade que o problema será resolvido. Ou encaramos isso de modo maduro ou tais ocorrências serão cada vez mais frequentes. Infelizmente.

(análise feita por Elias Aredes Junior)