O meu colega e amigo de profissão Eduardo Schiavoni utilizou a área de comentários do Só Dérbi no último dia 13 de abril para alertar sobre algo precioso na pesquisa Datafolha: a de que 41% dos brasileiros não estão nem um pouco interessados em futebol.
Para ser mais exato, se levarmos em consideração a cidade de Campinas com 1.182 milhões de habitantes, temos 484 mil pessoas que não tem o esporte bretão no seu radar de interesse. Mais: 26% do total tem grande interesse e outros 9% tem pequeno foco naquilo que acontece nas quatro linhas.
Mais: se levarmos em consideração a população campineira como parâmetro de análise, veremos que 413 mil campineiros utilizam o futebol como lazer principal ou secundário. Outros 271 mil habitantes possuem um interesse médio.
Com a invasão de corinthianos, são paulinos, palmeirenses e santistas e dos times estrangeiros, sobra muito pouco para trabalhar o avanço de consumo das equipes campineiras e os próprios veículos de comunicação. Inclusive este Só Dérbi.
A pergunta que fica: o que fizemos nos últimos 10, 15, 20 anos para inverter este quadro? Utilizo o pronome “nós” porque me refiro a dirigentes, jornalistas, jogadores, treinadores. Resumo em uma palavra: nada. Absolutamente nada.
Caímos em um erro absurdo. Consideramos que o nosso interesse e fanatismo por futebol seria transportado por osmose às novas gerações. Que elas teriam interesse em saber a história de Ponte Preta e Guarani. Falácia.
A maneira como o jovem e o adolescente encaram o entretenimento é diferente daquilo que verificávamos há 20 anos ou 30 anos. Hoje vivemos a era dos Youtuber’s da informação rápida e rasteira e do entretenimento a qualquer custo. O celular virou o propagador de informação e entretenimento.
Os jovens querem boa informação? Claro que sim. Aliás, vou além. Este novo público não se interessa avidamente por resenha, papo de boleiro ou o noticiário batido das emissoras de rádio e televisões.
Ele quer ser provocado, instigado, colocado contra a parede. Pergunto: fazemos isso? Temos tal preocupação? Jogadores procuram tanto o fone da moda ou a roupa de marca, mas conseguem captar aquilo que realmente o torcedor quer ouvir de seu ídolo?
E nós da imprensa? Discordo de quem imagina e pensa que só existe o jovem torcedor com foco na diversão inconsequente. Temos uma geração inquieta, antenada, disposta a refletir sobre os desmandos e mutretas do futebol. Dialogamos com esse público? Conseguimos detectar o que eles pensam?
A pesquisa Datafolha detectou uma queda de 10 pontos em relação ao levantamento de 2010. Resposta simples: quem tinha 17 anos em 2010 agora tem 25. Cansou de esperar. Para ele o futebol é algo mofado, enfadonho e sem sentido. Culpa nossa. Exclusiva.
Se isto deveria ser motivo de preocupação aos dirigentes de equipes gigantes, imagine para Ponte Preta e Guarani, rodeados há décadas por gestões deficientes, desconectados da realidade e com resultados irregulares.
Ao invés de realizar caça às bruxas, todos os personagens do futebol campineiro deveriam promover uma reflexão para encontrar um rumo. A imprensa também. Inclusive há um motivo concreto: nem união de categoria existe, pois a Associação dos Cronistas Esportivos de Campinas virou miragem há muito tempo.
Não é hora de fugir da responsabilidade. A deserção é profunda. É preciso estancar.
(artigo escrito por Elias Aredes Junior)