Uma reflexão sobre as redes sociais lotadas e arquibancadas vazias em Campinas

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Vire e mexe volta à tona no futebol de Campinas a discussão sobre a (pouca) participação da torcida nos jogos nos estádios Moises Lucarelli e Brinco de Ouro. Nas redes sociais, é tema que não se esgota. É um campo infinito de acusações, lamentações e justificativas. Algo que me soa com aquele slogan famoso de uma marca de bolachas: “vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?” Ou seja, é um debate que questiona: a torcida não vai ao campo porque as equipes não são competitivas ou o futebol é menos competitivo porque sente falta da torcida?”.

Nem um, nem outro. Um e outro.

O tema é complexo. Inserido em contexto social que vai além do conceito de fidelidade no futebol. É também uma questão de modernidade. É não ignorar que podemos assistir às finais da NBA ao vivo. Ver Lebron James consagrando-se o melhor jogador de basquete do mundo em tempo real, ainda que pela TV. E o futebol não foge ao duelo com as equipes de televisão. Não foge ao dilema do ir ao campo ou ver em casa, pelo PPV? Escolher entre o conforto do lar e arquibancadas descobertas?

Mas, sejamos sinceros, essa discussão que não existiria se o torcedor realmente se sentisse (ou fosse tratado como) parte da família. Você não questiona se é melhor ir ao cinema com a namorada ou ficar em casa trocando mensagens pelos aplicativos. Você não se contenta em ver quem ama pela televisão. Vez ou outra, tudo bem. Mas não pode ser regra. A menos que aquela pessoa não faça valer a pena. Caso ela não te receba com a cordialidade que se espera. Esse é um ponto crucial. Os times de Campinas, há anos, afastam seus torcedores com atuações apáticas. Com campanhas medianas.

Quais as medidas?

O que os dirigentes fazem para resgatar seus torcedores? Como eles pensam em atrair famílias? Quais os investimentos para tornar os Estádios mais convidativos? Como baratear os preços?

O torcedor está cansado de “pagar a conta”. É ele quem ama incondicionalmente. Quem sofre com cada revés. Quem escuta as provocações dos rivais. Quem economiza para comprar a camisa original, ainda que os preços sejam fora da realidade econômica da maioria. E para que?

Passar frio, tomar chuva, pegar ônibus, abrir mão da companhia da família e ir ao estádio para que? Falta perspectiva. E falta ambição. Isso afasta a torcida.

A ausência da torcida dá prejuízo. Não apenas financeiro, mas também emocional. Que atleta não gostaria de jogar com casa cheia? Os dirigentes necessitam sonhar com a participação de uma nova torcida, formada por homens, mulheres, crianças… de todas as classes sociais. É preciso combater a elitização do futebol.

Cresce o desinteresse pelo futebol

Claro que a decadência do futebol atual não é resultado exclusivo da ausência da torcida. O descrédito na Seleção (de acordo com o instituto Pró-Pesquisa de São Paulo, 91% dos brasileiros, na faixa entre 24 e 44 anos, não se importem com a Seleção) é ponto dessa equação . A falta de interesse dos atletas em atuar no Brasil outro. Os campeonatos com regulamentos que privilegiam os grandes. A corrupção. A cobertura superficial da imprensa esportiva, no geral. Todos são ingredientes a serem levados em contas. Até mesmo o fato de que, reclamar do time na internet, é muito mais cômodo do que lutar por um futebol mais democrático.

(análise feita por Adriana Giachini)