Choque de ambições entre diretoria e torcida impede o crescimento da Ponte Preta

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O jogo contra o Vitória (BA) foi duro. Disputado. Cheio de polêmicas. O técnico Eduardo Baptista comemorou a conquista de um ponto e o fato dos 90 minutos em Salvador servirem de combustível para a nova batalha que será travada quinta-feira no Estádio do Arruda, diante do Santa Cruz.

Agora, pegue uma câmera imaginária e direcione a cada torcedor pontepretano. Ele não comemora, não festeja ou celebra o resultado. Destina sim, diversas reclamações e insatisfações. Quer mais. Deseja mais.

Este é o principal drama vivido pela Ponte Preta no atual Campeonato Brasileiro: o choque de ambições da comissão técnica, jogadores e diretoria com aquilo que deseja a torcida.

De modo racional, não há como negar os argumentos de quem está no comando da estrutura. A Ponte Preta leva R$ 25 milhões de cotas de televisão e seus concorrentes mais robustos levam, no minimo, R$ 60 milhões. Em média de público, não dá para contar com a bilheteria como fonte de renda.

A média de público de 4.593 torcedores nos confrontos realizados no Estádio Moisés Lucarelli é muito aquém da performance corinthiana, que atrae 33.017 torcedores em média para sua arena. Você pode argumentar que enumero um gigante do futebol brasileiro. Ok. Mas o que dizer então do Santa Cruz, que recebeu até menos do que a Macaca por parte da televisão e atrai 12.927 fãs em cada jogo realizado no Recife? A conta não fecha.

A Ponte Preta, único representante do interior paulista na elita do futebol brasileiro não tem condições de lutar de modo igualitário com os concorrentes milionários. Fato.

Só que é impossível ignorar os fatos, dados e argumentos enfileirados pelos torcedores pontepretanos. Ele cansou de participar. Desistiu de ser coadjuvante. Sonha em ser protagonista. Deseja que o time coloque medo e temor não só no Vitória no Barradão, mas também no Corinthians, Grêmio e Atlético Mineiro quando está na condição de visitante. Não aceita comemorar a permanência na divisão principal do futebol brasileiro. Tem sede de participar da Copa Libertadores. Ou até sonhar com o impossível na aparência.

Falta de dinheiro? Engole a justificativa até certo ponto. Por que se tal quadro for verdade como explicar a chegada a final da própria Ponte Preta Copa Sul-Americana em 2013? E o que aconteceu na Inglaterra, em que o Leicester conquistou o título inglês ao derrubar potências como Arsenal, Manchester City e Liverpool. Isto não pode servir de modelo de sucesso? Por que a Ponte Preta não pode repetir o enredo com final feliz?

O interlocutor inconveniente chega e aponta que a torcida não pode exigir nada se não comparece aos estádios. A resposta é rápida e rasteira: o torcedor não comparece por que não se sente mais dono e proprietário da Ponte Preta. Não comparece em massa porque as classes C,D e E, base da torcida em Campinas, não passam pela catraca em virtude de um programa de Sócio Torcedor que tem suas virtudes, mas é um caminho inexorável para a elitização. Estabelece-se o impasse.

Bingo! Esta é a palavra. Impasse. A diretoria pensa de uma forma e a torcida de outra. Cada um fica em seu canto do ringue, defende sua tese e o tempo passa sem dó nem piedade. Quem sentará para conversar e “calibrar” as ambições de um lado e de outro? Quem abrirá o canal de diálogo para fazer a Ponte Preta, mesmo com poucos recursos e com a concorrência dos gigantes conseguir disputar e incomodar na Série A do Brasileirão?

O passo fundamental para o entendimento é que os comandantes entendam o sentimento das arquibancadas e quem paga o ingresso e nutre sua paixão pela “Nega Véia” consiga captar as limitações de uma disputa cujo foco é a desigualdade de condições geral e irrestrita. O dia que tal trégua e entendimento acontecer pode ter certeza: todos terão o mesmo sentimento em relação ao empate obtido em Salvador.

(análise feita por Elias Aredes Junior)