Nos seus últimos dias de poder, solitário e traído por todos os lados, o atual senador e ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, ficava isolado no seu gabinete.
Nos estertores do seu governo, Richard Nixon ainda culpava a imprensa norte-americana pela conjuntura que lhe conduziu a renuncia.
Em 2016, a ex-presidenta Dilma Rousseff, na votação do seu impedimento ainda ficava espantada com a declaração de voto de alguns deputados. Não acreditava no que via.
O que esses três fatos tem relação com o futebol? Se for com a Ponte Preta, tudo. Nos últimos dias, os torcedores repercutem as declarações do presidente de honra, Sérgio Carnielli, durante a festa de comemoração dos 118 anos em uma casa noturna da cidade. Frases otimistas, mundo cor de rosa e nada de fatos incômodos ao dirigente.
Na Rádio Central, Carnielli declarou que tinha apenas 10% dos torcedores contra o seu trabalho e seu grupo. Ele está errado? Dentro da sua lógica, não. Está certíssimo. Por que? Porque Carnielli é acometido de um problema recorrente em pessoas poderosas e influentes em cidades, estados, países ou clubes: a negação da realidade. Detalhe: pode acontecer comigo, você, com qualquer um. Basta ter poder. Qualquer poder.
Não importa o que acontece. O cenário é formado para que aos poucos não se tenha a mínima noção do que acontece e porque acontece. Começa assim: você forma uma equipe e na tentativa de sustentar seus postos eles não contrariam o chefe. Pelo contrário: abaixam a cabeça para tudo que ele diz. Em pouco tempo, por mais cabeça feita que você seja, a palavra sim é a única que você aceita.
Só que o mundo gira. Os fatos são polos transformadores. Personagens mudam de comportamentos. Ambientes são alterados. Quem nega a realidade tem o relógio parado no tempo. No caso do presidente de honra, deve encontrar-se entre 2001 e 2004, quando o clube formava times competitivos, estava na Série A e a torcida lhe ovacionava. Ou ainda em 2008, quando a conquista do Paulistão lhe escapou por entre os dedos. Ou em 2011, quando chorava como criança no vestiário após o acesso na Série B e torcedores lhe agradeciam de joelhos.
Hoje mudou. A oposição cresce a olhos vistos. Mas não adianta discutir. Não adianta debater. Sua realidade está impregnada pela paralisia do tempo e da recusa em aceitar que ampulheta tem outro ritmo. Ora, como ele pode pensar que é impopular nas arquibancadas se todas as pessoas ao redor lhe dizem Sim? Pense, raciocine.
Alguns podem dizer que Carnielli é um ditador. Não, não é. Longe disso. É apenas um senhor de meia idade rico, bem sucedido e que um dia resolveu salvar um clube de futebol. Mas o tempo passou. Tudo mudou. E ele não quer aceitar. Não quer ouvir a palavra não. Nem ele e seu séquito de seguidores.
Se você pensar de maneira racional, esse efeito nefasto por um poder exercido de maneira direta ou indireta não é motivo para destinar raiva, ódio ou espírito de vingança ao presidente de honra. É digno de pena. Porque a vida vai muito além de buscar o sim eterno das pessoas. Afinal, ninguém faz sucesso sozinho.
(análise feita por Elias Aredes Junior)