O presidente do Guarani Palmeron Mendes Filho iniciou uma nova cruzada para aprovar o projeto de terceirização do departamento de futebol profissional. Afirma de pés juntos a sua disposição de esclarecer todas as dúvidas aos sócios e que pretende convocar a assembleia de sócios e a reunião do Conselho Deliberativo ainda para este mês. Tudo para o novo gestor assumir a partir de outubro.
Oposicionistas ouvidos por este jornalista afirmam que o atual presidente tem clara preferência pela proposta da Magnum. Ele nega.
O que chama minha atenção não é nem a fissura em constituir um novo gestor ao futebol. Propor novas gestões administrativas é um direito de quem exerce a presidência. Constato é que a conjuntura de médio e longo prazo não recomenda tal afobação.
É só fazer um retrospecto. Em 2019, o Guarani retorna à divisão principal do Campeonato Paulista. Terá direito a uma cota de, no mínimo, R$ 6 milhões. Também irá disputar a Copa do Brasil. Se for eliminado na primeira fase, existe um valor repassado pela CBF. E que não é desprezível.
Na Série B do Campeonato Brasileiro, teremos outros R$ 6 milhões. Se for no Campeonato Brasileiro do pelotão de elite, a quantia salta para, no mínimo, R$ 50 milhões. Por qualquer ângulo de análise, a conclusão é: haverá dinheiro.
Alguém pode argumentar que o dinheiro poderá ser bloqueado pela Justiça. Opa, espera aí. Se boa parte das ações trabalhistas foram pagas, o que levaria a Justiça a bloquear os recursos? E mesmo nas ações cíveis, a Justiça do Trabalho já tomou medidas para repassar o dinheiro para quitação de compromissos.
O fato da juíza Ana Cláudia Torres Viana ter controle sobre os balanços do Guarani, como determinado em sentença, é um pressuposto de que jogadores e funcionários terão uma garantia de recebimento.
Nenê Zini é outro fator de respaldo. Sem terceirização, o empresário investiu quase R$ 4 milhões do próprio bolso para quitar compromissos da agremiação. Não porque é bonzinho ou benevolente. É um homem de negócios. Mas socorreu. Fato.
Zini colocou no Guarani jogadores sob sua responsabilidade e que ajudaram na obtenção de resultados relevantes, como a conquista da Série A2 e uma Série B que encontra-se a sete ou oito pontos de assegurar permanência e ainda briga pelo acesso. Ou alguém esqueceu que de 2013 a 2016 o Alviverde sofreu na terceirona? Pois é.
Existem pendências financeiras nesse ano? Há múltiplos cenários para pedir antecipação de cota e assegurar a sobrevivência para 2018.
Citei fatos verdadeiros que demonstram as possibilidades do Guarani andar com as próprias pernas. Aliás, pernas que já estiveram bem mais bambas. Pergunto: terceirizar para que? Com qual objetivo?
A pergunta não tem nenhum tom ofensivo. Por um único motivo: em boa parte dos casos, a terceirização não é executada em clubes com receitas e sim em distintivos trôpegos, em situação pré-falimentar.
Exemplo: quando Sérgio Malucelli assumiu o Londrina, em 2011, o clube vivia uma intervenção judicial e estava quebrado e não atuava em qualquer divisão relevante. Ou seja, o que entrasse de dinheiro seria bem vindo. Não é o caso do Guarani.
Terceirizar o futebol do Guarani, na atualidade, é como querer carregar em cima de um caminhão de guincho um carro usado, mas com motor zero bala e pneus meia vida. Ou seja: pode circular.
Se a proposta ocorresse em 2013 ou 2014, concordaria. Os fatos demonstram que o Guarani melhorou. Não ao ponto de soltar fogos ou sentir-se uma potência econômica. Mas não é uma miséria.
O papo deveria mudar no Conselho Deliberativo. E na Assembléia de Sócios. Nada de discutir terceirização e sim realizar uma intervenção direta no departamento de futebol com a indicação de quadros que possam tocar o departamento ao lado de Luciano Dias e com os recursos colocados disponíveis na atualidade.
Os candidatos atuais? Ora, Roberto Graziano já vai faturar muito com o complexo do Brinco de Ouro e Nenê Zini certamente não vai abandonar o Guarani, que além de ser o clube de sua família, é uma camisa potente e de visibilidade no mercado.
Se moro em uma casa, sou casado e tenho filhos, mas não sou eficiente na sua manutenção, medida salutar é buscar alguém dentro da residência para deixá-la nos trinques e não achar que vender ou alugar o imóvel é a solução. Que o Guarani aprenda lição tão básica.
(análise feita por Elias Aredes Junior)