Artigo Especial: Moisés Lucarelli, 70 anos

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Estádio Moisés Lucarelli, o "Majestoso", da Ponte Preta.

Quem não é residente em Campinas ou não torce para Ponte Preta deve estranhar as comemorações em torno dos 70 anos do estádio Moisés Lucarelli.

Em épocas de arenas luxuosas, públicos requintados e iluminações de alta definição, parece fora de moda celebrar um local com cara e pinta do século passado.

O conceito serve se você olha o futebol como um jogo. Ou se prefere defender interesses escusos.

Observar o futebol com amor, paixão e devoção faz entender o que  significam aquelas arquibancadas. Não é montanha de cimento e tijolo que faz aniversário. Não é uma praça esportiva morta, sem vida que fica exposta para admiração dos amantes do futebol.

O Moisés Lucarelli ultrapassa tudo. É feito de carne e osso. De gente. Suor. Lágrimas. Emoção. Devoção. Em cada pedaço de tijolo não existe a marca de profissionais frios e sem ligação e sim de gente pobre que tirou o pão da boca para colaborar com a campanha dos tijolos, que invadiu a década de 1940 e fez com que milhares de campineiros largassem os seus afazeres nos finais de semana para erguer este patrimônio de Campinas.

Ultrapassar os portões do estádio Moisés Lucarelli faz a gente realizar uma viagem no tempo. Relembrar torcedores anônimos e famosos que sentaram naquelas arquibancadas não em busca  de uma vitória em 90 minutos e sim de uma identidade, de uma razão para viver. Sair do estádio e proclamar aos quatro ventos: “Eu sou pontepretano. Eu amo a Ponte Preta. Aqui é meu lugar”.

Moisés Lucarelli é uma aula de história a céu aberto. Pontepretanos  sentam nos bancos escolares e aprendem sobre deuses da mitologia grega. Ou heróis bíblicos como Sansão. Ou mitos como Hércules. Só que eles querem mais. E sabem onde encontrar.  Os seus desbravadores estão ali, ao alcance de todos, naquela usina de sonhos em forma de gramado.

Em um passe de mágica, homens humildes oriundos de diversas partes do Brasil, ao pisarem naquele local foram dotados de superpoderes. Poderes emanados da energia inesgotável de homens e mulheres vestidos com uma camisa transversal em branco e preto, que é histórica e mítica. Ah, e quantos passaram por ali: Carlos, Oscar, Rui Rei, Dicá, Washington, Mineiro, Luis Fabiano, Renato Cajá, Aranha, William Pottker…

Você pode desconhecer os principais nomes da história brasileira, mas jamais esquecerá quem entrou e fez história no Majestoso. Ninguém acreditou somente por ouvir. Todos presenciaram. Viveram com a emoção a flor da pele. Impossível esquecer.

Ao completar 70 anos, o Estádio Moisés Lucarelli deixou de ser  uma obra da engenharia e da volúpia de torcedores decididos a realizarem tudo com as próprias mãos.

Agora, o Majestoso só é completo quando estão ali a Maria, o João, Pedro, o Paulo, o Alberto, o Giovanni, a Rosana,  o Décio,  o Nivaldo, o Peri, o Zaiman, a Renata, a Andréia. Milhares espalhados pelo Brasil. São inseparáveis.

Ninguém te contou mas eu digo: o estádio Moisés Lucarelli é você. Comemore. Você merece.

(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)