Sérgio Carnielli: uma divindade alicerçada em um Castelo de Areia. E que começa a desmanchar a luz do dia

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Na reunião do Conselho Deliberativo de terça-feira, o presidente de Honra Sérgio Carnielli desempenhou novamente o papel que mais lhe atraiu nos 21 anos em que está diretamente ou indiretamente ligado ao poder: o de herói. Afirmou que colocou R$ 2,3 milhões para pagar inscrições e obrigações trabalhistas em 2018 e ainda exigiu que a atual direção fosse cobrada pela torcida e conselheiros.

Uma bela maneira de sair dos holofotes e retirar a sua própria responsabilidade. Sim, infelizmente o heroísmo de Carnielli é um Castelo de Areia, que não se sustenta a primeira brisa que aparece na praia.

Comecemos pela sua declaração. Convenhamos: se ele precisou colocar dinheiro para fechar as contas da Ponte Preta o principal motivo não é porque ele foi benevolente e altruísta e sim porque o antigo presidente que ele indicou e defendeu entusiasticamente nos bastidores (Vanderlei Pereira) infelizmente teve uma gestão decepcionante no Campeonato Brasileiro, colheu o rebaixamento como “prêmio” e ainda deixou o déficit de R$ 10 milhões para quitar.

Pergunta que precisa ser feita: porque as criticas virulentas de Carnielli contra a atual administração não foram dirigidas ao antecessor no momento da análise do balanço e das contas relativas a 2017? Não é difícil decifrar. Por que no fundo, no fundo, ele sabe que Vanderlei Pereira fracassou diante do maior orçamento da história da Ponte Preta. Sim, essa fatura tanto ele como Vanderlei deveriam assumir. E não fizeram.

Longe de considerar José Armando Abdalla Junior o mocinho da história. O time tem lacunas de planejamento, a troca de João Brigatti foi injustificável e se não fosse o ex-goleiro não haveria titulo do Interior e ouso dizer que os 37 pontos atuais na Série B seriam miragem. Só que Abdalla errou pelo noviciado na bola. Não conhece o mundo da bola e seus meandros. Se Sérgio Carnielli e Vanderlei Pereira dizem realmente conhecer o riscado como conhecem porque não orientaram Abdalla para que esses erros não fossem cometidos? Percebam como a cada fato ou análise, o suposto heroísmo, a infalibilidade de Sérgio Carnielli vira um castelo de cartas, em que ao se retirar uma peça tudo desaba.

Não há como negar: a sua proposição na reunião do Conselho demonstra que Carnielli aproveitou-se bem dessa divindade artificial criada em torno de si. Certamente cometeu erros e equívocos administrações mas sempre teve um escudo para se proteger. Diversos dirigentes que passaram pela Ponte Preta colaboraram para a montagem do cenário.

Exemplo disso foi o Campeonato Brasileiro de 2003, em que a Ponte Preta quase foi rebaixada. Abel Braga ficou como herói. Marco Antonio Eberlim ficou como cavaleiro solitário. Agora, se existiam salários atrasados, problemas no pagamento de fornecedores, porque Carnielli foi poupado? O que levou a todos esquecerem esta falha de gestão monumental? O mesmo pode se dizer da Série B de 2014, quando Carnielli foi endeusado porque pagou seis meses de salário atrasado e vendeu ao público que Márcio Della Volpe era o vilão. Ué, se ele era o comandante do grupo político ele não tinha culpa de nada?

Eis que novamente Carnielli buscou fazer o papel de herói ou de vitima na reunião do Conselho Deliberativo. Seria salutar e muito mais benéfico para a Macaca se Carnielli fizesse uma autocrítica e admitisse seus erros. Tirar essa fissura por aplausos e concordância irrestrita que lhe fazem viver em uma bolha de bajulação e aceitação incondicional de sua visão de futebol e de mundo.

Sérgio Carnielli não é Deus. Não é lenda. É um ser humano como outro qualquer. Que acerta, erra e tem contradições. Já passou da hora deste pontepretano com grandes serviços prestados deixar de lado de a lenda, a fantasia e cair na realidade. Para o bem da coletividade.

(análise feita por Elias Aredes Junior)