Especial: Sem mudar a sociedade, o futebol continuará violento, preconceituoso e insensível

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Em sua coluna no jornal O Globo, o ex-jogador Paulo César Caju alertou sobre os insultos e trocas de ofensas registradas entre jogadores, dirigentes e treinadores.

Afirma que o Brasil precisa de educação, antes de reivindicar futebol de qualidade. Demitido recentemente do Fluminense, Oswaldo de Oliveira reclamou de quatro ou cinco torcedores que lhe perseguiam sistematicamente. Revidou com um gesto obsceno. “Um estádio inteiro ofender uma pessoa não pode ser uma coisa considerada normal. Isso acontece sistematicamente aqui. Mas é uma coisa que, infelizmente, somos obrigados a saber lidar. Vou contra cinco mil pessoas? Fico na minha”, disse no programa “Seleção Sportv”.

Campinas não é diferente. Jorginho saiu magoado da Ponte Preta porque detectou um grupo de torcedores que lhe xingava sistematicamente. Ofensas pessoais. Há seis anos, Tarcísio Pugliese foi vitima de uma perseguição poucas vezes vista no estádio Brinco de Ouro. A cada crise, o protesto abraçado por bugrino e pontepretano tem a violência verbal como apetrecho.

De jogadores perseguidos e alvo de agressões perderíamos horas ao enumerá-los. A lista é enorme.

De maneira cômoda, achamos que o futebol é uma parte dissociada da vida. Não é.

Talvez seja sua virtude expor ao quadrado os problemas da sociedade. Ignoramos que a arquibancada é o reflexo do que vemos na rua.

O Brasil é um país violento, intolerante, cujas pessoas consideram que podem resolver tudo no grito ou no primeiro sopapo. Que o insulto é a maneira de vencer qualquer debate. Um país em que o conhecimento acadêmico é desvalorizado. Professores, responsáveis pela educação formal  ganham uma miséria. Doutores com pós-graduação e com sabedoria são insultados por quem tem escolaridade inferior. Responda: no que o futebol é diferente? O técnico formado deixado de lado pelo boleirão, a truculência como palavra de ordem…Violência como código de conduta.

Na arquibancada, a imagem de senso comum do torcedor é o sujeito tosco, que insulta e tem o braço pronto para dar um soco em quem discorda de sua opinião. Tripudiar sobre o técnico e o jogador que ele considera incompetente não traz consequências negativas. Na sua visão, é lógico. Tudo é permitido. Um ambiente cujo conhecimento acadêmico e cientifico não tem valor. Dentro e fora do campo. Vale o improviso no péssimo sentido, o argumento vazio, a ausência de lastro intelectual. Ah, é só no futebol? Será mesmo?

Quem dera se a violência fosse o único problema.. Não suporta as entrevistas cheias de marra, prepotência e arrogância de Renato Gaúcho? Ou as enrolações de Tite nas entrevistas coletivas? Responda: qual a diferença para a vida em sociedade?

O futebol não é causa e sim consequência de uma sociedade doente, violenta e insensível. Se não existe mais calor humano, o motivo está antes de a catraca girar.

Torcedores bugrinos e pontepretanos reclamam que o Brinco de Ouro e o Majestoso não são mais os mesmos. Corrijo: a cidade não mudou. Para pior. O futebol só vai mudar se a cidade for alterada. A gentileza, cordialidade, educação e racionalidade só estarão nas arquibancadas o dia que você sentir a mudança em cada esquina, rua, casa, serviço. Em todos os cantos.

Futebol não é entretenimento. É uma extensão da vida em sociedade. E na atualidade, sobra violência e frieza pelo próximo e faltam educação e empatia nas ruas do Brasil. O futebol não seria diferente.

(Elias Aredes Junior)