Análise Ponte Preta: em um país desigual e racista, Tiãozinho é um privilegiado. Vai corresponder ou será uma nova decepção?

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Algumas coisas devem ser ditas. Para que não sejam perdidas no espaço. Compromisso firmado para que ninguém esqueça aquilo que é prioritário. Nos últimos dias, muitos torcedores celebraram o fato da Ponte Preta contar com um presidente oriundo da população negra. Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho assumiu o poder. É o dono da caneta. Em contrapartida, este jornalista foi questionado qual será sua postura. Afinal, é um negro que analisa o trabalho de outro. Vai questionar? Cobrar? Pressionar? Fiscalizar? Ou vai aliviar?

Nos primeiros artigos, alguns já disseram que uma critica minha seria como se estivesse no papel de capitão do mato. Nada mais tolo e idiota. A tarefa de Tiãozinho é apresentar uma gestão transparente, límpida, honesta e que não persiga opositores. E que apresente resultados. A minha tarefa é fiscalizar para que tudo isso seja verdade e que seus erros sejam apontados. Nada de alivio.

Aliás, em alguns pontos, o garrote precisa ser apertado. Porque? Pela própria trajetória pública de Tiãozinho. Oriundo dos movimentos sociais, integrante do setor sindical, atuante dentro da Central Ùnica dos Trabalhadores por anos e anos, é inadmissível que ele pense por exemplo como Vanderlei Pereira e Sérgio Carnielli, representantes do empresariado e com uma visão do capital. Detalhe: nada contra. Mas cada um deve abraçar a sua coerência. A de Tiãozinho é essa, a de governar e olhar para o torcedor mais pobre e necessitado e não para os desejos do topo da pirâmide.

Por presidir um clube popular tais compromissos precisam ser firmados urgentemente. Tiãozinho sabe mais do que ninguém como o machismo, homofobia, racismo e violência contra minorias é capaz de destroçar uma vida ou uma comunidade. Ele vai esquecer tudo isso ao sentar na principal cadeira do Majestoso? Esperamos que não.

Hoje, o Esporte Clube Bahia tem um Núcleo de Ações Afirmativas. De modo criativo e barato, institui campanhas contra qualquer forma de preconceito. Pois é. Tiãozinho, agora presidente pontepretano, tem uma chance única de instituir trabalho semelhante. Aliás, uma pergunta: por que as mulheres estão ausentes do dia a dia da Ponte Preta? Não seria hora de corrigir tal problema? A resposta fica com ele.

Porque ele deve saber que está no topo da pirâmide. Aproximadamente 70% dos negros brasileiros são pobres e recebem um salário 30% menor. Mais: de cada 100 pessoas que ocupam cargos de chefia, apenas 10 são negras. Ou seja, Tiãozinho é um privilegiado e na prática a expectativa é que não cometa erros bisonhos e tenha personalidade própria. Que reverta as expectativas negativas.

(Elias Aredes Junior)