O dérbi, o Rádio e a minha vida. Vale a pena ler de novo? Acho que sim!

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Publiquei este texto há um ano. E hoje vou quebrar uma escrito: vou republicá-lo. Até para que todos tenham noção do que o dérbi e o futebol campineiro significa para mim. Acompanhe:

O que leva uma pessoa a amar o futebol? Qual a força que emana da sua alma capaz de você entregar tudo em nome de um clube ou de um esporte?

Que mágica é essa que faz um jovem ou adolescente ficar cinco, seis horas vidrado no noticiário esportivo? De minha parte tudo se resume em uma palavra: instinto de sobrevivência.

Fui uma criança doente. Muito doente. Perdi as contas das vezes em que meu pai, com a necessidade de acordar as 05 horas da manhã para ir trabalhar na Pirelli, acionava o fusquina da ACIC, presidida na época por Guilherme Campos.

O pedido era para nos buscar e irmos ao hospital mais próximo do Jardim Amazonas, um bairro operário nas décadas de 1970 e 1980. Coração de Jesus, Clinica Santo Antônio, Hospital Samaritano.

Desde os 02 anos de idade. Até os quinze anos. De cada 30 dias do mês, ficava metade do tempo internado. Sozinho Companhias?Gibis e um aparelho de rádio amarelo que um dia meu pai levou de presente..

Nunca mais larguei. Foi por volta de 1982 ou 1983.

Acompanhava os jogos de Ponte Preta e Guarani. Vibrava com os gols e as transmissões esportivas.

Acompanhava com avidez os programas esportivos. Rádio Central, Rádio Educadora e Rádio Globo de São Paulo. A cada dia, a cada nova batalha, deitado na cama, submetido aos mais diversos tratamentos, minhas orações em direção a Deus continham um pedido: “Faça me viver para acompanhar a rodada de amanhã”.

E eu vivia. Sobrevivia. E aquilo que deveria ser um motivo de lazer virou álibi para o coração bater. E era apenas e tão somente acompanhar. Não podia jogar como os outros garotos. Jamais na mesma intensidade. Caso contrário, o pânico de uma parada respiratória surgia.

O tempo passou e lógico, como uma pessoa consciente percebi que jamais seria incluído na turma do bairro, da igreja ou da escola se fosse pelo meu talento. Era ruim demais.

Inconscientemente, passei a batalhar pelo conhecimento da bola. Lia todas as edições da Revista Placar, comprava Correio Popular e Diário do Povo e ficava oras com a busca de informações, dados…Tudo que me pudes

se jamais ser desprezado pelas crianças e adolescentes. O curso de jornalismo e a consequente formatura foi uma consequência da paixão e da ligação feita como criança.

E o dérbi? Onde entra nesta história? Era o meu Grande Premio de Monaco, as 500 milhas de Indianapolis ou as 24 horas de Le Mans. Vivia, pesquisava e consumia o que acontecia como se fosse o último ato de minha vida.

Sabe a paixão avassaladora de adolescência? Pois é.

Um fogo ardente que me traz até hoje nos dias atuais com a obsessão de ajudar no debate da opinião pública a buscar uma saída para uma crise que parece infindável.
Eu não quero nada do derbi e nem dos dois times.

Não quero dinheiro, patrocinadores ou tapete vermelho. Porque Ponte Preta e Guarani, de um jeito ou de outro, enquanto eu lutava pela vida, eles me deram motivos para avançar e acreditar que o futuro seria melhor. E para isso não precisei de armas, escudos ou qualquer apetrecho. Somente um aparelho de rádio de cor amarela.

Que em algum canto do céu deve ter sido reconstruído por meu pai. Afinal, quem te leva ao olimpo mora no seu coração. Para sempre.

(Elias Aredes Junior- publicado originariamente no dia 13 de março de 2019)