Análise: o futebol no Brasil deveria parar. E o dérbi 196 ocorrer em outra data. Falta responsabilidade. De todos

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O presidente do Guarani, Ricardo Moisés e da Ponte Preta, Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho tem a função de resguardarem os direitos dos clubes. As reações dos dois dirigentes após a reunião com o Secretário de Saúde, Carmino de Souza, foi desastrosa. Sob todos os aspectos. E o agente público merece ser criticado.

Sem rodeios: o jogo deveria ser adiado. Repito: o Dérbi 196, com previsão de comparecimento de Torcida do Guarani deveria ser adiado para outra data em que o coronavirus esteja controlado.

Atuar com portões fechados também é um disparate. Afinal, qual o argumento para justificar que jogadores, comissão técnica e trabalhadores envolvidos na partida corram o risco de contrair o vírus? Interesses da televisão? Desculpe, mas nessa hora dane-se os interesses comerciais. Vidas importam mais.

Pior: acredito que ninguém pensou na hipótese do adiamento. Uma prova tive no final da sexta-feira, quando conversei com a promotora do Ministério público, Cristiane Hilal, que determinou o jogo com portões fechados.

Em dado momento, argumentei que a torcida do Guarani estava chateada porque ela se sentia traída e apunhalada por não comparecer no terceiro dérbi de torcida única e com portão fechado. E que existia também um tabu envolvido, com oito anos sem vitórias bugrinas.

Resposta dela: “Tomo conhecimento pela primeira vez desses fatores. Diante disso, concordo com o adiamento do jogo”, afirmou a promotora. Pergunto: como Tiãozinho e Ricardo Moisés não descreveram tais tópicos para o Ministério Público? Inadmissível.

Tiãozinho erra quando não defende o adiamento do jogo. Por ter sido político e saber a extensão do interesse público deveria ser o primeiro a empunhar a bandeira de um dérbi em outra data.

Ah, a Ponte Preta está em dificuldades no campeonato…Sei que é duro falar, mas o que é uma campanha desastrosa de Campeonato Paulista em comparação a milhares de vidas que correm o risco de serem contaminadas?

De acordo médicos, uma única pessoa infectada em um local com grande aglomeração tem capacidade de transmissão para até 40 pessoas. Um horror.

Esse risco permanecerá alto diante da entrevista coletiva concedida por Ricardo Moisés em em que ele praticamente incentiva os torcedores bugrinos a ficarem do lado de fora do estádio durante a partida. Ou seja, transforma-se a rua em local potencial de contaminação. Absurdo, absurdo, absurdo.

O Secretário Municipal de Saúde também está equivocado. Porque adotou a medida pela metade. A paralisação não deveria ficar apenas em eventos públicos. Comércio, shoppings e todo comércio que produza aglomeração deveria ser fechado temporariamente. Ou, na pior das hipóteses ter o seu horário de funcionamento controlado. Do jeito que fez parece que jogou para a torcida, para o eleitorado de Jonas Donizete, o atual prefeito.

Sou jornalista esportivo. Mas não sou irresponsável. Pontepretanos e bugrinos, fiquem em casa nesta segunda. Utilizem e-mails e todo tipo de pressão para o jogo ser adiado e realizado em data oportuna. Você pode dizer que outras cidades do interior estão partidas normais e com público. Cada caso é um caso. Campinas já está no estágio de transmissão comunitário. Ou seja, não se sabe a origem do vírus.

Não fico em cima do muro: futebol com portões abertos ou fechados na atualidade é de uma atrocidade sem limites. Não há justificativa colocar pessoas em risco.

Então, que possamos fazer as atitudes dos outros países: todos em casa. Resguardados. O futebol pode esperar. Inclusive o dérbi.

(Elias Aredes Junior)