Carta de despedida para Oswaldo Fumeiro Alvarez, o Vadão. Por Elias Aredes Junior

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-Fala companheiro!!!

Era assim que você atendia meus telefonemas. Imaginava do outro lado o sorriso estampado. A alegria de falar em futebol. E de atender os amigos. Ou em um ultimo caso de estender a mão nas horas de aflição.

Fomos amigos. Talvez não com a proximidade que eu gostaria. O jornalismo, esse meu sacerdócio me impedia.

Devia analisar o seu trabalho.

Criticar ou elogioar. Ah! Como eu ficava ferido a cada vez que precisava apontar uma falha de seu trabalho!

Especialmente porque sabia que com você não haveria chance das suas mãos estarem sujas pelas mutretas e safadezas do futebol. Você gostava do futebol em estado puro. Sem enfeites ou retoques. Não é à toa que Brasil de Oliveira foi seu irmão de jornada. Os dois tinham os mesmos sonhos e as ambições. Gostavam e apreciavam a bola na rede, o jogador talentoso, o diferenciado.

A vida lhe deu  vitórias. Infindaveis. Montou times inesquecíveis.  O Carrossel Caipira…Nossa, que coisa linda. Atletas humildes e talentosos. Rivaldo, Leto, Capone…Todos sob o comando de um ex-preparador físico tímido, recluso e extremamente humano. Em Campinas, Ponte Preta e Guarani lhe devem noites e tardes de triunfos e histórias saborosas.

Nossa relação teve um defeito. A gente não conseguia se elogiar pessoalmente. Você era uma das únicas pessoas que eu batia no peito e dizia: “Vadão é meu amigo”. O sentido da palavra era pleno, sincero, total. Poderia ser maior a amizade? Acredito que sim. Mas aquilo que você dava em troca era tão gigantesco que me constrangia.

Tempos atrás fiquei sabendo que você me considerava diferente. Não, Oswaldo Alvarez você que era diferente. Diferente no trato. Diferente em valorizar a família. Diferente em acreditar que o ser humano merece tudo de bom e do melhor. Especialmente se for ao próximo. Ajudou tanta gente. Sem pedir nada em troca.

Hoje sou casado. Tenho uma esposa ao meu lado. E saiba que você, com sua retidão de caráter e amor incondicional a sua esposa Ana e aos seus filhos Carolina e Adriano foi uma referência de como buscar uma vida conjugal e familiar feliz.

Hoje, segunda feira, você se foi. Está agora ao lado dos seus amigos Brasa e Wilson de Barros.

Do seu jeito, deve lamentar a maneira como tudo transcorreu na Seleção Feminina. Você tentou de tudo. Não foi da maneira que sonhava e desejava.

Seus amigos devem agora lhe abraçar e te acalentar. E eu te digo: vá em paz. Não leve na alma o rancor e o ódio daqueles que te atacaram. Você é muito maior do que qualquer time, seleção. Qualquer uma.

Da minha parte, um imenso vazio invadiu meu coração. Eu sei que vai cicatrizar. E que daqui até a eternidade você será o meu eterno amigo Camisa 10.

Obrigado companheiro. Não tive a chance de lhe dizer mas agora nesta despedida, à distância eu te digo: eu te amo. E este amor não vai acabar

(Elias Aredes Junior)