Ponte Preta: Sabará, o craque que foi esquecido. Por Israel Moreira

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Que o futebol brasileiro foi (ou ainda é) um celeiro de craques todos nós sabemos. Mas que também somos o país que menos valoriza ou se de importância a sua memória e ao seu passado, também é verdade. E Onofre Anacleto de Souza é um desses casos. Pelo menos nas bandas de cá, em Campinas.

O apelido Sabará vem desde Atibaia sua terra natal, onde era chamado de “Jabuticaba Sabará”, referência (preconceituosa é verdade) à fruta nativa brasileira de cor preta. Segundo a reportagem do Jornal “Mundo Esportivo”, de outubro de 1953, Sabará foi demitido da obra em que trabalhava na empresa “Laloni & Bastos” devido ao barulho causado pelas batucadas promovidas por ele e seu grande amigo Clovis (que se tornaria zagueiro do Fluminense na década de 50) no seu horário de almoço. O futebol agradeceu.

Sabará fez história com a camisa da Ponte Preta

Chegando Campinas instalou-se na região de Sousas e logo, chamou a atenção dos olheiros da Ponte que o levaram ao Majestoso em 1949. Ponta direita rápido, aplicava seus dribles desconcertantes nos beques e chegava à linha de fundo com muita facilidade e com extrema perfeição nos cruzamentos. Mesmo assim, demorou a ser titular da Macaca, pois na posição de ataque pelo lado direito, havia outro grande jogador e ídolo da torcida pontepretana, Damião.

O treinador da época, Zezé Procópio, o improvisou pela ponta esquerda, pelo meio da área, pois não tinha condições de deixá-lo de fora da equipe titular. E Sabará desandou a fazer gols. E foram muitos. Em três anos de Ponte Preta (1949 – 1951) marcou 58 gols em 116 jogos. Começou a chamar a atenção de outros clubes do Brasil até que em 1952 foi negociado junto ao Vasco da Gama por 800 contos e mais 6 jogadores da equipe de São Januário que vieram pra Campinas, entre eles o meia Jansen que faria história na alvinegra a partir de então.

No Rio de Janeiro, Sabará conquistou fama e destaque na equipe vascaína que fora campeão carioca de 1952, 1956, 1958 e também do Rio-SP no mesmo ano. Apesar da concorrência desleal até, com Garrincha e Julinho Botelho, Sabará chegou à seleção brasileira em 1956 e conforme o livro “Seleção Brasileira – 90 Anos” de Roberto Assaf e Antônio Carlos Napoleão, defendeu a camisa canarinho em 10 partidas, sendo 7 vitórias, 1 empate, 2 derrotas e 1 gol marcado.

O jogador foi o segundo atleta revelado pela Ponte a defender à seleção brasileira refere-se os jornalistas André Pècora e Stephan Campineiro em “Ponte Preta, A Torcida que Tem um Time”.

Sabará permaneceu na equipe carioca por 12 anos, se tornando o terceiro jogador que mais vestiu a camisa vascaína (são 576 jogos e 165 gols) atrás somente de Roberto Dinamite e Carlos Germano. Jogou ainda na Portuguesa Carioca, antes de encerrar a carreira e fixar residência na Ilha do Governador.

O “Jabuticaba” se tornou um dos grandes jogadores do Vasco em toda sua história e ídolo da torcida, lembrado até os dias de hoje. Faleceu em outubro de 1997 no Rio de Janeiro aos 66 anos.

E por aqui, continua esquecido. Infelizmente.

Israel Moreira é metalúrgico, pesquisador e pontepretano.