Pesquisa Datafolha comprova que brasileiro tem resistência ao conhecimento. Por que no futebol seria diferente?

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Neste final de semana, o jornal Folha de S. Paulo soltou uma série de pesquisas sobre a credibilidade da democracia no Brasil e a popularidade do atual Presidente da República, Jair Bolsonaro. E uma pergunta chamou minha atenção. Foi feita para averiguar sobre quem o governante deve ouvir no momento de tomar decisões importantes. Dos entrevistados, 42% consideram que o governo de plantão deve ouvir mais os técnicos e especialistas enquanto que 54% consideram que somente os cidadãos devem ser ouvidos.

Preste atenção: de cada 100 brasileiros, 54 consideram salutar colocar a ciência e o conhecimento em segundo plano e ouvir apenas e tão as opiniões empíricas dos cidadãos. Mesmo que neste bolo esteja incluído gente, por exemplo, que nunca frequentou uma faculdade medicina para saber o que é uma pandemia e suas consequências.

Isso está relacionado com o futebol? Totalmente.

O futebol é um espelho fiel do Brasil. Perceba o preconceito e a resistência sofrida por treinadores e profissionais que dedicaram anos e anos de sua vida ao estudo, ao conhecimento e a troca de informação dentro das universidades. Técnicos como Carlos Alberto Parreira, Paulo Autuori, entre outros, são obrigados ainda a encarar o ceticismo enquanto profissionais que se valem apenas do carisma e do ensinamento empírico dentro do gramado ganham fãs e mais fás.

Em qualquer país decente do mundo, profissionais como João Paulo Medina, coordenador da Universidade do Futebol seriam incensados e recebidos com tapete vermelho em qualquer estádio de futebol. Aqui convive com a pecha de ser “científico”. Ou diferente.

Resultado: os antigos, salvo raras exceções, nutrem um preconceito atávico por quem batalhou e lutou por formação acadêmica. Enquanto isso, muitos profissionais lotados de conhecimento e informação verificam que portas são fechadas para o seu trabalho. Motivo: excesso de conhecimento. Tragédia sem precedentes.

Assim como na vida em sociedade, o futebol brasileiro cultua a ignorância. Tem inveja e ódio do conhecimento. Joga os livros para debaixo do tapete e torce o nariz para analistas de desempenhos e executivos de futebol que apenas saíram a campo para conhecer não somente aquilo que está no gramado, mas as demandas dos Recursos Humanos, Marketing, administração.

Somos um povo hipócrita e dissimulado. Pregamos aos quatro ventos que é necessário investir em educação. Que o povo não pode ficar na ignorância. Mas no fundo, no fundo, não queremos mudar nada. Nem na sociedade e nem no futebol. Uma pena.

(Elias Aredes Junior)