Nas ultimas duas semanas, a Federação Paulista de Futebol, clubes, dirigentes e jogadores reafirmaram o desejo de retornarem aos gramados. Alegam prejuízos financeiros, perigo de fome e carestia aos mais frágeis que atuam nas agremiações, entre outros pontos. E que em outros estados a bola rola.
Eles podem até nutrir razão sob o ponto de vista econômico. Mas o que isso representa diante de pessoas na fila por uma vaga de UTI, o sofrimento de familiares pela perda de um ente querido, a morte de mais de 325 mil mortes? Eu digo: quase nada.
Apesar deste cenário desolador, parece que existe a intenção de criar na opinião pública a sensação de que o drama do futebol parado tem peso idêntico de mortes e hospitais dilacerados pelo Brasil afora.
Não tem.
Nem de longe.
Pessoas infringem a lei? Fazem festas? Frequentam botecos? Que a fiscalização apareça e puna os culpados. Agora nivelar a ausência do futebol com o drama que vivemos nos hospitais é o fim. Flerta com a insensibilidade.
Tal visão distorcida só tem relevância porque uma parte dos cronistas esportivos comprou a ideia. Em todo o estado de São Paulo e no Brasil.
Infelizmente.
Profissionais que utilizam os espaços em mídias de pequeno, médio e grande porte para transformar o futebol em projeto de salvação nacional. Salvação de vidas? Em segundo plano. Pior: desprezam a palavra e a análise de cientistas renomados internacionalmente como Miguel Nicolelis, cuja frase é definitiva: o futebol precisa parar porque o Brasil precisa parar.
Cronistas esportivas demonstram que não se interessam em discussões relevantes dentro do próprio futebol e que são independentes da bola rolando: a divulgação dos balanços financeiros, o descalabro administrativo reinante nos clubes, as jogadas de bastidores, as atitudes inconvenientes dos atletas durante a pandemia. Pauta é que não falta.
O futebol é parte integrante do país. Gera empregos. Personalidades são projetadas. É a vitrine para a exposição de patrocinadores. Mas um gol nunca e jamais terá o peso de uma vida perdida para a Covid-19. Jamais.
(Elias Aredes Junior)