Análise Especial: Guarani, Ponte Preta e a nova ordem no futebol Brasileiro. Um abismo cada vez maior

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As vezes a realidade bate a nossa porta. De maneira dura e cruel. Sem retoques. Torcedores do futebol campineiro reclamam dia sim, dia não, sobre a incapacidade dos nossos clubes de brigarem contra os principais players do futebol nacional.

A Ponte Preta, por exemplo está às voltas com a sua amargura gerada a partir da queda para a Série A-2 do Campeonato Paulista. O Guarani, por sua vez, até celebra duas participações seguidas nas quartas de final do Paulistão. Mas precisa admitir que o abismo é imenso.

Algumas informações por sua vez são essenciais para desnudar o que nos recusamos a ver. Pegue como exemplo o Palmeiras. Finalista do Paulistão e que somou seis pontos contra o futebol campineiro no último paulistão.

Na noite de segunda-feira, o Conselho Deliberativo do Verdão se reuniu para aprovar as contas relativas ao ano passado. O ex-presidente Mauricio Galliote foi aplaudido de pé. Motivo: a receita liquida do clube em 2021 ficou em R$ 910 milhões. Vou repetir: R$ 910 milhões. Enquanto isso, a Ponte Preta tem um orçamento previsto de R$ 46 milhões para 2022 e o departamento de futebol profissional do Guarani tem a ideia de gastar uma folha de, no máximo R$ 1 milhão por mês até dezembro. É um outro mundo.

Pense: antigamente, se não pertenciam ao mesmo mundo, pelo menos o futebol campineiro era capaz de incomodar. Creio que, se tudo tivesse sido feito de maneira correta, Ponte Preta e Guarani disputariam com o Athletico Parananense o protagonismo entre as equipes de médio porte. O que deu errado? O que falhou?

Tenho minhas deduções. a primeira é que tanto Ponte Preta e Guarani e suas respectivas torcidas falam muito mais dos dirigentes do que das respectivas instituições.

Falamos de Peri Chaib, Marco Antonio Eberlin, Lauro Moraes, Vanderlei Pereira, Beto Zini, Leonel Martins de Oliveira, José Luis Lourencetti, Ricardo Moisés e não falamos daquilo que é feito para a perenidade do clube, das instituições.

Confiamos muito mais nas pessoas do que na força das instituições instaladas. Achamos que as soluções encontram-se em mentes iluminadas. E pior: essas acreditam que foram ungidas mesmo.

Em segundo lugar, não há como fugir da constatação: o futebol campineiro perdeu o bonde gerado pela Lei Pelé. Dirigentes, torcedores e componentes passaram anos e anos com reclamações sobre os problemas da lei e esqueceram da mina de ouro traçada pela legislação: quem investisse dinheiro em infraestrutura e em categorias de base modernas, certamente teria ganhos no futuro.

Mário Celso Petraglia, presidente do Athlético-PR, apesar de todos os seus defeitos, soube detectar este momento e elevou o patamar do furacão. Enquanto, o futebol campineiro preferiu discutir platitudes.

Como ingredientes finais desta receita macabra não podemos ignorar dois ingredientes. Para começar, uma fuga de realidade protagonizada por torcedores que se recusam a aceitar o quadro.

Se fosse uma fuga que empurrasse as equipes para frente, até entenderíamos. Pior é verificar que apostam na possibilidade de vencer qualquer gigante ou campeonatos de âmbito regional e nacional no atual estágio. Não dá. E para finalizar, falta de quadros políticos.

Não há juventude, sangue novo nas direções dos clubes. em 2000, Marco Antonio Eberlin era revelação dos dirigentes. Após 20 anos, ele é chamado para conduzir a Macaca. E neste tempo? Quem surgiu? Quem apareceu? Pois é.

No Guarani, os ultimos presidente foram um desastre total e absoluto. Alguns defendem que Ricardo Moisés foi o melhor de todos. Pode até ser. Mas leva nota 05. E no vestibular rígido do futebol nacional, a média é sete. Por enquanto, reprovado. Mas pode mudar.

Mesmo se acontecer uma reviravolta e a lucidez for protagonista no futebol campineiro, os números e resultados de Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro ou mesmo de Athletico-Mineiro, ou do América Mineiro demonstram que o futebol campineiro não está sequer no início da escalada da montanha da excelência. E a chegada ao pico vai demorar. E muito.

(Elias Aredes Junior-Foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)