Tite, Daniel Alves e uma constatação para a Copa do Mundo: sobram craques e faltam líderes

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Tite convocou a Seleção Brasileira para a Copa do Mundo do Catar. Os seus 26 escolhidos. Daniel Alves está entre eles. Aos 39 anos, o atleta, em péssima fase técnica, teve as portas abertas. O mundo caiu sobre o treinador. As perguntas na entrevista coletiva praticamente condenaram o técnico. Claro, o Twitter fez o julgamento correto. Algo não pode ser esquecido: Tite é um sujeito correto, honesto e muitos furos acima dos demais colegas brasileiros.

Deixo claro: pelas impressões deixadas no gramado eu não convocaria Daniel Alves. Vou repetir: eu não levaria. Ele assistiria a Copa do Mundo pela televisão.

Só que penso que nós, cronistas esportivos, cometemos um erro crasso na hora e no momento de fazer análise da convocação de uma Seleção Brasileira e da escalação do clube que é alvo de nossa cobertura.

Nós fazemos pose e nos consideramos os vestais do futebol, mas  perdemos de vista o essencial: qualquer treinador (qualquer um!) tem muito mais instrumentos para tomar uma decisão do que nós, pobres jornalistas e torcedores.

Vamos pegar Tite como exemplo. Ele e sua comissão técnica ministram treinamentos. Sabem o rendimento de cada um nos treinos e nos jogos.  Acompanham o clima do vestiário. Convivem com os atletas na concentração. Tem acesso a resultados de exames físicos e clinicos e conversam diuturnamente com os atletas quando eles servem aos seus clubes. 

Para completar o cenário, a Comissão Técnica da Seleção Brasileira anunciou durante a entrevista coletiva que visitaram o atleta, exigiram uma melhoria de seus números e a versão apresentada é que Daniel Alves correspondeu a expectativa. Ou seja, eles têm informações que nós não temos em mãos. Isso faz diferença.

Faço todo esse preâmbulo para fazer um questionamento: o que então justifica a convocação de Daniel Alves?

Pelo aspecto técnico e tático nenhum. Pelo rendimento no gramado não há qualquer argumento que justifique sua presença.

Repito a pergunta: como entender? Sobrou apenas a questão liderança. E neste requisito, a culpa não é de Daniel Alves e sim desta geração de atletas e do próprio Tite, que não se esforçou em fortalecer e buscar alguém com tal perfil.

A atual Seleção, apesar de talentosa, não tem nenhum líder nato. Casemiro? Talvez. Thiago Silva? Já demonstrou ausência de estabilidade emocional em instantes decisivos. Neymar? Aos 30 anos, infelizmente demonstra reações nas redes sociais e no debate público que estão muito longe do ideal. Ele deveria ser o líder técnico e nos bastidores, mas já deu demonstrações que perde a cabeça por pouco. Sem esquecer o seu Cai Cai na Copa da Rússia. 

A Copa do Mundo é um torneio curto.

Sete jogos.

Tudo em 30 dias.

Um erro e tudo vai por água abaixo.

Pare e reflita: sem Daniel Alves, quem vai segurar o samba no cotidiano em casos de conflitos, diferenças e possíveis desafios que gerem instabilidade emocional? Acredite: apenas um jogador não dará conta da tarefa. E só fato de Tite eleger Daniel Alves como um dos capitães é uma demonstração a respeito da ausência de alternativas para liderar um grupo que vai em busca do hexacampeonato mundial.

Resumo da ópera: o Brasil é um elenco recheado de craques mas com pouquissimos líderes.

Na carência, Daniel Alves vira peça vital nos bastidores.

Daniel Alves: horripilante com ele no gramado, trágico sem ele para segurar a onda nos bastidores. E foi Tite que armou esta armadilha para si. Agora que aguente a bronca.

(Elias Aredes Junior-Com foto de Lucas Figueiredo/CBF)