Exercer o papel de pai de maneira plena é vestir a camisa 10 na Copa do Mundo. Por Thiago Varella

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A ausência paterna é um drama silencioso no Brasil. Segundo reportagem da Agência Brasil com dados dos cartórios de Registro Civil do país, apenas nos sete primeiros meses deste ano, 100.717 crianças foram registradas sem o nome do pai. Isso representa um total de 6,5% do total de recém-nascidos no período.

 O ambiente do futebol, ainda muito masculino no Brasil, é o espaço ideal para discutir esse problema. Até porque, os próprios jogadores fazem parte do problema, sejam como filhos sem pai ou como o pai ausente.

 Como lembrou o craque da caneta Matheus Pichonelli, em sua coluna no UOL, Casemiro, peça fundamental nos 11 de Tite, foi abandonado pelo pai na infância e praticamente criado por um olheiro.

 Do outro lado, o goleiro Bruno, no auge da carreira no Flamengo, foi condenado por ser o mandante do sequestro e assassinato da modelo Eliza Samudio, com quem namorou e teve um filho. Segundo testemunhas, o relacionamento do casal terminou quando Eliza revelou estar grávida e ela se recusou a abortar, conforme havia sido proposto pelo goleiro.

 Na atual seleção brasileira, há o péssimo exemplo do zagueiro/lateral Eder Militão, que briga na Justiça com a ex-namorada, a influenciadora Karoline Lima, por causa do pagamento da pensão à filha do casal. O atleta pediu revisão do valor de R$ 6 mil pagos por ele mensalmente. Será que esse dinheiro realmente faz falta para um jogador do Real Madrid? Duvido.

 Apesar dos maus-exemplos no futebol, que talvez apenas ecoem a vida real, a Copa do Catar exibe diversas histórias de protagonismo paterno. Em campo, ainda vamos discutir qual foi a melhor seleção, o craque do torneio e tudo aquilo que é relacionado ao jogo bonito. Fora das quatro linhas, os pais presentes são, talvez, o grande ponto positivo do Mundial.

 Na seleção brasileira, ainda na preparação para a estreia, o meia Paquetá deixou o treino por alguns instantes. Queria ver o que acontecia com o filho que chorava à beira do gramado. Até teve comentarista que acha que vive nos anos 1960 criticando a atitude do jogador. A verdade é que o atleta dava ali, mesmo sem querer, um exemplo de que os filhos devem ser a prioridade de qualquer pai. Até acima do trabalho.

 A presença das crianças no ambiente da seleção só traz benefícios aos pais. Uma Copa do Mundo é, sem dúvidas, o ápice da carreira de qualquer jogador. E motivo de tensão e nervosismo permanente. Claro que o pagodinho ajuda. E evidente que a família pode ter um papel importantíssimo para acalmar os atletas.

 Outra cena bonita e repleta de ternura ocorreu neste domingo (4). Após a derrota da Polônia para a França por 3 a 1, o goleiro polonês, o excelente Wojciech Szczesny, foi flagrado consolando o filho Liam, de 4 anos, após a derrota.

 Triste pelo jogo e por ver que o pai estava eliminado da Copa, o menino chorou aquele choro dolorido, baixinho, mas cheio de lágrimas. O pai o pegou no colo e, provavelmente, ensinou que as derrotas fazem parte da vida. Lição fundamental até mesmo para uma criança tão pequena.

 O atacante inglês Raheem Sterling mostrou-se um pai preocupado com sua família. O jogador recebeu a notícia que sua casa havia sido assaltada por ladrões armados que fizeram sua mulher e filhos reféns. Por sorte, ninguém ficou ferido, mas o atacante não titubeou em voltar à Inglaterra para ficar, nem que por pouco tempo, com a família em um momento tão complicado e, assim, perder o jogo de oitavas de final contra Senegal. Questão de prioridade.

 A Copa do Mundo é feita de craques, de jogos emocionantes, mas também de histórias inspiradoras. Que Paquetá, Szczesny, Sterling e outros possam inspirar os pais torcedores, tanto os que já têm filhos quanto os que pretendem ter. É possível ser um profissional exemplar e um pai presente. Afinal, as mães fazem isso desde sempre, mas, no caso delas, a sociedade chama apenas de “fazer a obrigação”. Ou você acha que se Paquetá, Szczesny e Sterling fossem mães este texto teria sido escrito?

(Texto de autoria de Thiago Varella-Coordenador de Conteúdo da Rádio Brasil Campinas-Foto de Lucas Figueiredo-CBF)