Como o novo Governo poderá ajudar o futebol a receber o pobre novamente nas arquibancadas

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O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante seu discurso na cerimônia de posse no Congresso Nacional

O Brasil tem um novo Presidente da República. Luiz Inácio Lula da Silva. A cada nova troca de governo, sempre alguns clichês aparecem na opinião pública. Aliás, nem existe a necessidade de realização de processo eleitoral. Os conceitos são jogados ao vento, sem qualquer critério. O mais comum é que futebol e política não se misturam. Nada mais incorreto.

Evidente que na maioria das vezes, os homens de gravata não se misturam com aqueles que correm pela vitória nos gramados.

Mas basta que a história bata à porta para que a verdade seja estabelecida. Não existe um único torcedor da Ponte Preta com mais de 60 anos que nunca tenha aprendido a versão de que o Campeonato Paulista de 1970 tenha escapado por entre os dedos por causa da política.

O São Paulo vivia um jejum de titulos e precisava vencer a Macaca, que tinha campanha irrepreensível. Laudo Natel, governador nomeado na época pelo regime militar, sentou no banco de reservas e muita gente acha que Arnaldo Cézar Coelho ficou intimidado e  fez um trabalho ruim e prejudicou a Ponte Preta. Ele nega até os dias atuais tal versão. E convenhamos: sua trajetória profissional com pouquissimas polêmicas e atuação em final de Copa do Mundo é uma prova e tanto de sua lisura e conduta reta e correta. Mas ficou a versão de que a política atrapalhou o sonho.

Assim como o Guarani, campeão de 1978 da Taça de Ouro foi um tapa com luva de pelica na Ditadura Militar. Explica-se: Campinas sempre foi uma cidade oposicionista ao Regime Militar. O MDB venceu todas as eleições ocorridas no período e forneceu até um senador para vencer a ditadura, no caso Orestes Quércia, em 1974.

Pois aquele Guarani ofensivo, destemido, habilidoso e criativo era um contraponto a Seleção Brasileira comandada pelo Capitão Cláudio Coutinho. Acha que eu exagero? Procure no You Tube os momentos finais da narração de Osmar Santos na Rádio Globo, em que ele celebrava o Guarani e principalmente o surgimento ao futebol careta e sem força ofensiva da Seleção Campeã Moral em 1978.

Até aqui falamos de acontecimentos das décadas de 1970? E hoje? Como o futebol poderá ser contaminado pela politica? Em seus dois discursos de posse realizados no domingo, o novo Presidente da República, reforçou que seu mandato será de luta contra desigualdade. Você acha que ele exagera? Ora, basta olhar para as Arenas instaladas no futebol brasileiro.

A cada domingo, jornalistas esportivos normalizam a cobrança de ingressos acima de 150 reais. A classe média alta é a nova mantenedora dos clubes que disputam a Série A e por vezes até a Série do Campeonato Brasileiro.

Negros sumiram das arquibancadas, pobres precisam juntar dinheiro por meses e meses para assistir a um mísero jogo. Os setores populares começam a rarear e futebol virou sinal de entretenimento de alto padrão. Exemplos de prioridade aos mais pobres é algo cada vez mais raro no futebol nacional.

Apenas dois exemplos chamaram a atenção neste ano: o São Paulo que promoveu ingressos populares para seus jogos no Morumbi e a Ponte Preta, que apostou alto ao fixar em R$ 10 o valor do ingresso para o dérbi e colheu como fruto um publico de 16.850 pessoas. E entenda: a maioria daqueles torcedores eram pobres.

Pobres que estão tão distanciados dos estádios que tanto torcedores bugrinos como pontepretanos realizaram no ano passado ações coletivas para distribuir ingressos para torcedores carentes. É elogiável, espetacular, mas não deixa de ser uma faceta cruel da nossa desigualdade.

Você, amante do futebol, tem o direito e até o dever de proteger o seu direito de escolher em quem votar e principalmente resguardar o seu direito de protestar e fiscalizar o governo de plantão. Assim é a democracias.

No entanto, fica cada vez claro que, caso o novo governo seja exitoso na diminuição da desigualdade e da melhoria do poder de compra dos componentes das classes C, D e E isso pode ser o estopim para viabilizar um processo de reentrada do pobre dentro dos estádios de futebol no Brasil.

Afinal, com dinheiro no bolso o lazer fica mais próximo de ser desfrutado. E nada melhor do que gastar verba e tempo com o seu time do coração. O futebol é do povo, para o povo e com o povo. É esse conceito que deve ser resgatado. Para o bem do futebol brasileiro.

(Elias Aredes Junior-Foto de Valter Campanato-Agência Brasil)