Os desafios de Ana Moser no Ministério dos Esportes

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Neste primeiro dia util de 2023, evidente que dois assuntos estão estabelecidos como prioridade: a posse do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o velório de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que ocorre na Vila Belmiro. Neste instante de catarse na sociedade brasileira, reconheço que é difícil realizar reflexões. Mas são necessárias. E uma deve ser feita a respeito da Nova Ministra dos Esportes, Ana Moser. 

Medalhista Olímpica, e vencedora de um Reality show de celebridades que buscavam mostrar os seus dotes de gestão para o empresário Roberto Justus, a ex-atleta Ana Moser chega a Esplanada dos Ministérios com a disposição de marcar época. O último ex-atleta foi exatamente Pelé, que ficou de 1995 a 1998 e deixou como herança a Lei Pelé, que proporcionou direitos aos jogadores profissionais. Se eles não souberam aproveitar aí é outra história. 

Hoje, após a passagem de muitos políticos no cargo e total desprezo do governo anterior pelo tema, Ana Moser chega ao posto com diversas missões. A principal é a de estabelecer um trabalho conjunto com os Ministérios da Saúde e da Educação para construir um processo que fomente o esporte de base no Brasil. 

Temos que admitir: o esporte de alto rendimento e com grande apelo midiático não precisa de ajuda governamental. O vôlei tem uma liga estabelecida, o basquete tem apoio de patrocinadores e de até de alguns clubes de futebol e uma parcela de atletas olimpicos tem um planejamento para sobreviver e competir em alto nível.

Evidente e lógico que modalidades que vivem submersas fora dos períodos olímpicos precisam de ajuda estatal, algo que pode ser feito com transparência..

Ana Moser, no entanto, prestará um grande serviço ao Brasil se conseguir implementar e colocar para funcionar e para valer um sistema que incremente a prática esportiva nas escolas de ensino fundamental e de ensino médio. Porque é da quantidade que se tira qualidade. Tal conceito é implementado há décadas nos países mais desenvolvidos e com resultados concretos. 

Segundo  dados computados a partir do Censo Escolar da Educação Básica 2020, de 135.263 escolas do ensino fundamental I ao ensino médio, 47% não possui nenhuma instalação para a prática desportiva. Quando são consideradas apenas as quadras esportivas, esse número cai para apenas 45,1% das escolas. Um balanço estarrecedor. 

Para que o trabalho produza o resultado necessário, é de bom tom que Ana Moser, já no exercício do cargo defina e esclareça os pontos que vão separar a ministra Ana Moser da ex-atleta que atuou no terceiro setor e que era fundadora do Instituto Esporte e Educação. Sim, o instituto tem um belo trabalho e Ana Moser é reconhecida como uma cidadã honesta, ilibada e que comandou um trabalho irrepreensivel no terceiro setor. Mas agora o momento é outro. Se ela já falou sobre o assunto, que reforce sua postura de se afastar do instituto e que este foque apenas na obtenção de recursos por intermédio da iniciativa. 

Privada. Será mais duro? Com certeza. Mas a política brasileira é traiçoeira e um simples engano pode servir para uma condenação sumária. Ana Moser não pode e nem deve passar por isso. Ela está é talhada e preparada para marcar um gol de placar nos gabinetes. Assim como fez o Atleta do Século quando vestiu terno e gravata e superou todos os desafios. Que Ana Moser tenha igual êxito.

(Elias Aredes com foto de José Cruz-Agência Brasil )