O sinal de alerta está ligado na Ponte Preta. Uma vitória contra o Bahia é imperiosa. Caso aconteça um revés, a zona de rebaixamento vira possibilidade palpável e real. Infelizmente. Neste caso o técnico Gilson Kleina está na mira. Escala um time titular com excesso de volantes, coloca o time titular de modo defensivo e insiste em alguns atletas que não correspondem, como os volantes Naldo e Jadson, o atacante Lins e outros menos cotados.
A torcida considera a demissão do treinador como a solução. Contrata-se um novo profissional, retire a equipe de qualquer risco de queda, almeje classificação à Libertadores e está tudo bem.
Sinto dizer, mas tal cenário está longe de ser o problema principal da Macaca. Kleina decepciona. Verdade. Seu trabalho no Brasileiro deixa a desejar. Agora, eleger o técnico vice-campeão paulista como bode expiatório tira de foco o entrave principal: a filosofia de trabalho, a maneira de enxergar o futebol. O conceito reinante na Ponte Preta está equivocado. Muito.
Fritar Gustavo Bueno também está longe de ser a cura. A questão é estrutural Os proprietários dos equívocos atendem pelos nomes de Sérgio Carnielli, Vanderlei Pereira, Giovanni Di Marzio, Hélio Kazuo…Em resumo, os dirigentes estatutários, eleitos pelo voto dos associados.
Para que o processo seja entendido, uma explicação pormenorizada é necessária.
Escassez de Recursos x Criatividade
É preciso compreender a escassez de recursos. Com muita boa vontade, com as cotas de televisão, propaganda e venda de jogadores, a quantia apurada em 2017 deve ser de R$ 50 milhões. No ano passado, foram R$ 58 milhões de receita ao futebol. Bem, se levarmos em conta o poderio e o tamanho dos gigantes e seus orçamentos milionários, a palavra de ordem no Majestoso deveria ser criatividade. Antecipar-se as tendências e ver aquilo que ninguém vê. Diante disso, na montagem do elenco, dois alicerces são fundamentais: categorias de base e atletas de campeonatos emergentes existentes no Brasil.
As revelações medianas da Ponte Preta
Na base, o que se viu na Macaca nos últimos anos foi uma confusão de gestão na base, o que impossibilitou a construção, por exemplo, de um Centro de Treinamento moderno, com infra-estrutura capaz de atrair a atenção de pais e empresários ávidos por uma vitrine. Pense: a Ponte Preta disputa o Paulistão, Brasileirão e Sul-Americana.
Logo, tem projeção. Agora, porque o jogador com potencial de integrar o clube de ponta, o do pelotão de elite não fica atraído pela Alvinegra? Simples: porque São Paulo, Corinthians e Atlético-PR, por exemplo, contam com alojamentos de alto padrão, campos e mais campos para trabalhar e uma estrutura educacional européia. A questão não é de peso de camisa e sim de estrutura para atrair os melhores.
Enquanto o Furação revela Hernani e Otávio, o São Paulo revela jogadores medianos, ruins e de boa qualidade, a Ponte Preta tem a seguinte lista de jogadores revelados desde 2015: o lateral-direito Jeferson, o volante Alef, Ravanelli, Léo Cereja, Emerson, Reynaldo, Yuri e Felipe Saraiva. Incluir jogadores com formação em clubes anteriores como Leandrinho (Ituano), Matheus Jesus (Flamengo), não ameniza o quadro paupérrimo de jogadores com potencial de acrescentar tecnicamente ao time titular, viabilizar recursos polpudos e até almejar a Seleção Brasileira. Os atletas revelados são, no máximo, medianos. Não se constituem em base para uma equipe almejar disputar título de Campeão ou vaga na Libertadores.
Caminho perdido
Não cobro de um clube que não conhece o caminho das pedras. Oscar, Dicá, Chicão, Mauro, André Cruz, Luis Fabiano, Carlos
Ganso…Boa parte destes jogadores transformaram a Macaca em protagonista e todos foram revelados no Majestoso. O que acontece que o caminho foi perdido? Não é algo para ser respondido por Kleina ou Gustavo Bueno. São funcionários que obedecem diretrizes que deveriam ser estipuladas pela diretoria executiva.
Um time de poucos recursos calca sua campanha na descoberta de jogadores de bom quilate técnico, ainda não apurados pelo mercado da bola e ainda sem projeção. Há nove anos, Sérgio Guedes foi vice-campeão paulista com a Ponte Preta e tinha três “desconhecidos”: Renato Cajá, Elias e o atacante Wanderley, revelado pela base. Sem contar o goleiro Aranha que clamava por uma oportunidade. Traduzindo: não existiam medalhões.
Quando retornou a divisão de elite em 2012, o próprio Gilson Kleina construiu sua campanha com atletas como o volante Renê Junior, o lateral-direito Cicinho e o zagueiro Kleber. Em 2015, o desempenho no gramado projetou o atacante Biro Biro e o zagueiro Pablo. Pergunto: em 2017, qual jogador oriundo de uma equipe menor é uma revelação? Cite o nome de Marllon e faça um exercício de memória para encontrar alguém em um time com média de idade acima de 29 anos. Não, não vale citar Naldo e Jadson. Estes geram dor de cabeça ao torcedor.
Quem é vilão?
Nos últimos dois anos, o caminho trilhado foi apostar em figurinhas repetidas como Cajá, Fernando Bob ou Roger, atualmente no Botafogo. Ou em atletas tarimbados capazes de suportar a pressão das arquibancadas como os atacantes Felipe Azevedo, Rhayner e Emerson Sheik. Não se iludam: os jovens William Pottker e Clayson foram um ponto fora da curva. Não representavam a real política de contratações da Macaca.
Com tais requesitos exibidos e explicados, proponho uma reflexão. Gilson Kleina decepciona, Gustavo Bueno padece em critérios de contratações. Mas dá para eleger apenas estas duas figuras como vilões dos problemas da Ponte Preta? O buraco é bem mais embaixo.
(análise feita por Elias Aredes Junior)