A chegada de Nenê Santana e uma reflexão sobre os critérios de montagem do novo futebol da Ponte Preta

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A quarta-feira, dia 15 de dezembro, foi marcada com o anúncio de Nenê Santana como auxiliar técnico fixo da Ponte Preta.

As redes ficaram divididas.

Muitos comemoraram por ser um retorno de um ídolo da década de 1980. Outros ficaram inconformados pela escolha de um profissional que não atua a beira do gramado há muito tempo. Ou seja, seria uma pessoa desatualizada em relação a tudo aquilo que acontece em relação ao futebol. Ou seja, na visão dessas pessoas não serve.

O problema é mais complexo do que parece.

Precisamos analisar sob todos os ângulos. Este Só Dérbi nunca escondeu sua predileção por um futebol calcado no planejamento, profissionalismo, ciência e estreito relacionamento com a academia.

Fato. E não vai mudar. Acreditamos que pessoas com metodologias utilizadas nas décadas de 1980, 1990 e no século podem e devem encontrar-se integrados a esses novos personagens e cenários, desde que atualizados.

Quando falamos da chegada de Nenê Santana também precisamos falar de Marco Antonio Eberlin, o presidente eleito.

Sejamos sinceros: desde quando saiu do clube, em 2006, todo o trabalho feito na Ponte Preta não foi apenas para buscar resultado e sim instalar uma metodologia de trabalho que apagasse todo e qualquer vestígio de Eberlin. Algo que resvalou em assassinato de reputação.

Suas ideias e métodos não poderiam servir de parâmetro. Não bastava apenas vencer. Era preciso enterrar a memória afetiva criada por muitos torcedores em torno de Eberlin. Ocimar Bolicenho, Gustavo Bueno, Marcus Vinicius, Márcio Della Volpe, Alarcon Pacheco, Marcelo Barbarotti…Todos tinham tal missão.

Se alguém ousasse instalar ou aplicar algo que remetesse ao futuro presidente, o seu destino estava selado: rua. E de certa forma o próprio mundo do futebol tomou atitude semelhante. Apagou, escondeu o trabalho de Eberlin. A estadia no Bragantino foi uma exceção.

Coloque isso na mente e pense no seguinte: todas os personagens citados e o próprio mundo do futebol trataram Eberlin como um inimigo a ser combatido e desaparecido. Como agora pedir que o presidente eleito procure entre seus “inimigos” as pessoas com as quais vai trabalhar?

Evidente que ele vai escolher quem sempre demonstrou lealdade ao seu projeto. E claro, que seja competente. Pense. Reflita. Raciocine. Você aceitaria trabalhar com gente ou com uma estrutura que no passado lhe dirigiu hostilidade? Pois é.

Aposto: Gilson Kleina ficou não só pela competência demonstrada na Série B, mas porque demonstrou lealdade a instituição e nutriu um relacionamento decente com o MRP durante o processo eleitoral. Automaticamente construiu uma relação mínima de confiança com Eberlin.

Não serão pequenas as dificuldades que serão encontradas por Nenê Santana. O futebol de 2021 não é o mesmo futebol de 2005. Mas ele sabe que ele pode estender a mão a Eberlin e vice-versa. E Nenê Santana sabe que precisará encontrar tempo e disposição para cursos de reciclagem patrocinados pela CBF.

Na atual conjuntura da Ponte Preta, talvez a cumplicidade e confiança no olho de quem está ao lado seja mais importante do que títulos de PHD e de pós graduação.

(Elias Aredes Junior-foto divulgação)