Análise Especial: a quem interessa o caos contínuo na Ponte Preta?

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A Ponte Preta não tem um minuto de sossego. Derrota para o Londrina em pleno estádio Moisés Lucarelli. O fantasma do rebaixamento não desaparece. Não cessa. Parece um pesadelo que não acaba. Sem fim. Um gosto amargo que já está na boca do torcedor pontepretano desde o final do Campeonato Paulista, quando lhe foi entregue o bilhete de embarque para a Série A-2 do Campeonato Paulista.

É um quadro vexatório. Humilhante. Pense que esse mesmo torcedor até bem pouco tempo participou de final de Copa Sul-Americana, celebrou participação em final e semifinal de Campeonato Paulista e ficou até entre os oito melhores do Paulistão. A partir da queda no Brasileirão de 2017 não há motivos para sorrir.

Clubes formam imagens na memória coletiva. Hoje, a imagem é de uma Macaca triste e arrebentada por passado recente. É o caos. Desordem total. Lembro da musica de autoria da banda de rock Titãs, “Desordem” de 1988. E a musica faz duas perguntas que se encaixam perfeitamente no cenário atual da Ponte Preta:

Quem quer manter a ordem?

Quem quer criar desordem?

Sim, a manutenção da Ordem pressupõe diálogo, entendimento, congraçamento e acordo entre aqueles que pensam de modo diferente.

Antes, um pouco de história. Na Espanha, após o terror vivido na ditadura de Franco, a solução foi o Pacto de Moncloa, que estabeleceu um acordo entre Deputados, Senadores, associações empresariais e das Comissões de Trabalhadores com o objetivo de estabilizar o processo de transição para o regime democrático, bem como adotar uma política econômica que contivesse a grande inflação que chegou a 26,39%. Tudo isso aconteceu em 1977.

Assim como na Espanha,. Brigas e discussões permearam a Ponte Preta desde que o antigo grupo político assumiu o clube em 1997.

Quem estava dentro reclamava de quem estava fora.

E quem estava excluido lutava para ter voz. Até que o enfado gerado pela estagnação, ausência de resultados e busca por um novo rumo fizeram com que um novo grupo político fosse eleito, o MRP. Escolhido sob o signo da transparência, da transmissão de informações e da capacidade de aglutinar aqueles que estavam fora do jogo. Mérito total do MRP, cujo principais integrantes são Marco Antonio Eberlin, André Carelli, Pedro Abruzzo, o boina, Gustavo Valio, Marcos Garcia Costa.

Mesmo que alguns não estejam participante da administração, é inevitável que sejam cobrados pelo atual quadro.

Pior: Hoje, a impressão é que está tudo invertido. Há dias que dirigente nenhum se pronuncia. Os repórteres não tem acesso aos treinamentos. Jogadores são comunicados de desligamento sem o detalhamento da conjuntura que levou a decisão. As redes sociais pegam fogo com declarações contundentes da oposição nas redes sociais.

Desordem. Conflitos. Um clube rachado. Mas que de certa forma interessa aos dois lados. Sim, é isso que você  leu. Como?

Explico: entrar em acordo com os grupos oposicionistas não interessa ao MRP porque de certa forma seria capitular e ser derrotado moralmente pelos antigos lideres oposicionistas. É preciso prevalecer o pensamento administrativo focado no velho com o novo.

Custe o que custar. E se algo der errado , fica estabelecido que o trabalho não foi bem feito porque o sistema do futebol atrapalhou. Ou que a oposição tumultou o clima ao ponto de desestabilizar o clube.

Só que a desordem também é de interesse do DNA Pontepretano.

Mesmo que eles neguem. Mas é. O raciocínio é simples como água: quanto mais resultados negativos forem colhidos pelo MRP, maior é a chance do DNA se transformar na tábua de salvação e alternativa de poder.

Por causa de decisões liminares , dirigentes que estiveram no clube não podem viabilizar o retorno ao poder. Mas podem utilizar o prestigio, influência e dinheiro para inflar candidaturas.

Pense.

Raciocine. O que o DNA Pontepretano ganharia ao dar trégua ao MRP? O que eles ganhariam? Eu respondo: nada!

O torcedor quer paz e prosperidade? Com certeza. Mas a política se sobrepõe ao coletivo. Enquanto isso, caos e desordem. E desespero para quem pouco se importa com disputa política e apenas quer ver o seu time ser feliz no gramado. Por enquanto não dá. O jeito é tentar sobreviver no meio deste tumulto.

(Elias Aredes Junior)