Sou um defensor do árbitro de vídeo. Não é possível abrir mão de uma ferramenta tecnológica. Os erros cometidos na cabine são uma estratégia para que os tradicionalistas defendam com unhas e erros o modo raiz de arbitragem. Como se no passado erros grosseiros não tivessem sido cometidos.
Revise finais de Campeonatos Brasileiros, de torneios regionais e todos vão chegar á conclusão de que a história foi escrita a partir de equivocos absurdos.
Ou dá para esquecer a divisão do título do Campeonato Paulista de 1973 em virtude do erro de contagem do árbitro Armando Marques? E a decisão do Brasileirão de 1995 e do confronto entre Corinthians x Internacional em 2005?
Em ambos os casos, o estádio do Pacaembu foi transformado uma arena de trucidar sonhos de santistas e colorados? Os árbitro de ocasião fizeram de caso pensado?
Claro que não! São humanos, erraram e se tivessem um auxilio eletrônico certamente o desfecho seria diferente.
A contextualização é o bastante para comprovar a utilidade do árbitro de vídeo. Por outro lado, a atual metodologia gera celeuma em todos os lugares do mundo. Cada país estabelece seu critério e a bagunça é inequívoca. No Brasil, a transferência de poder é real. Quem está no gramado é subordinado às decisões de quem recebe o ar condicionado na nuca.
Quem ousa desafiar o rito estabelecido e banca a resolução no gramado parece cometer pecado mortal, mesmo se estiver correto. Resultado: aos poucos, a credibilidade do árbitro é minada e destruída. E o que era para ser um potencial trunfo para atenuar erros e equivocos vira o vilão da vez. Sem merecer.
O mundo do futebol é soberbo. Arrogante. Não pede conselhos a ninguém. É incapaz de olhar para o lado. Uma observação criteriosa para o tênis e o vôlei seria suficiente para iluminar a mente dos dirigentes sobre um caminho para salvar o VAR. Sim, o futebol precisa da instituição do desafio. No voleibol, o expediente é destinado a um pedido de revisão de um lance do jogo realizado por um dos capitães dos times. O prazo para efetuar o pedido é de sete segundos após o lance. Há três tipos de desafios.
O primeiro é para confirmar se a bola foi dentro ou fora. Outra utilização do equipamento é para constatar se houve falta no saque ou invasão. Quando ocorre a solicitação. o segundo árbitro assiste ao replay do lance e informa ao árbitro principal, responsável pela decisão. Cada equipes têm direito a dois pedidos de desafio por set. Agora, um fato importante: se o vídeo promove uma mudança na decisão do árbitro, o número de solicitações disponíveis permanece inalterado. Caso contrário, a equipe perde o desafio.
No tênis, o desafio é, digamos, mais flexível. Os pedidos são ilimitados e podem ser requisitados para confirmar bola dentro ou bola fora. Mas há uma punição: se três desafios incorretos forem pedidos durante um set, o jogador só poderá requisitar o instrumento no set seguinte. No tie-break, a tolerância para desafios incorretos aumenta de 3 para 4. O pedido sempre é feito pelo juiz de cadeira.
Algumas pessoas alegam que o desafio não é necessário no futebol porque o VAR faz checagem constante. Bobagem. O desafio será utilíssimo para limitar a interferência da arbitragem no jogo. Poderia ser conduzido da seguinte forma: cada técnico a beira do gramado poderia encaminhar dois pedidos por tempo de jogo. Caso não utilize o seu privilégio no tempo inicial isto não seria acumulativo para o segundo tempo. E poderia ocorrer um cerceamento: os pedidos seriam limitados a pênaltis, impedimentos e confirmação de gols. Só.
Resultado imediato: o árbitro de campo ganharia autonomia e suas decisões teriam maior peso. O VAR seria acionado realmente em caso de necessidade. Para o Brasil, existiria um outro benefício: o treinador à beira do gramado pensaria duas vezes antes de encaminhar uma reclamação.
Faço apenas uma sugestão. Algo, porém, é certo: o VAR precisa mudar. Para o bem do futebol brasileiro e mundial.
(Elias Aredes Junior com foto de Lucas Figueiredo/CBF)