Análise Especial: Ponte Preta, vitória emblemática e uma das possíveis traduções do amor

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O que é o amor? Você já parou para pensar nisso? Não, é uma reflexão calcada na breguice ou nas cenas do filmes açucarados da Sessão da Tarde. Ou na definição a partir da relação entre homem e mulher, pai e filho, mãe e filho ou entre irmãos. Eu falo do amor que segue a gente a vida toda, que não arreda o pé da nossa cabeça, que não cessa um minuto durante os nossos dias.

Sim, eu falo do amor gerado pelo futebol. Aquele amor inconsequente, sem nexo. Que faz o pai ficar em tensão e preocupação e com apenas uma pergunta na cabeça: e se meu filho não torcer pro meu time? O que será que vai acontecer?

O amor gerado pelo futebol faz a gente perder a consciência dos atos. Alguns atravessam o país atrás do time. Outros procuram seu par perfeito nas arquibancada. Afinal, como ignorar os destinos formulados pelo acaso?

Algumas frases do amor Eros, gerados entre casais, ou Ágape, criado a partir de uma amizade fraterna, servem para o futebol. Machado de Assis já dizia: “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar”.

Sábio conceito. E quem quisesse presenciar isso na prática bastava comparecer ao estádio Moisés Lucarelli no último sábado. Não existiam ali 6146 torcedores da Ponte Preta. O que tinhamos ali eram pessoas dispostas a proferir uma declaração de amor. De qualquer forma.

Seja na beira do alambrado ao jogar junto com o time. Ou com cânticos de incentivo aos jogadores. Ou ao lado do pai, mãe, dos filhos, todos uniformizados e dispostos a proclamar o amor incondicional pela Macaca.

Você acha exagerado? Não entende a comoção gerada pelos gols de Matheus Silva, Evis e Wallison? Desculpe, mas você não é uma pessoa racional. Você um tolo. Alguém que não consegue detectar o quanto um clube modifica a vida, a personalidade, o destino de uma pessoa. Assim como o amor.

Viver a Ponte Preta não é apenas acompanhar os jogos. Não é celebrar cada vitória como se fosse uma conquista de campeonato.

Viver a Ponte Preta é olhar para a camisa guardada no armário e entendê-la como a extensão do seu coração.

É imaginar o local da próxima comemoração.

É entender cada vitória como se fosse uma traição a sua paixão indestrutível. É ficar inconformado com cada rompante de vaidade, prepotência ou arrogância de qualquer dirigente. Você não entende ou admite, que eles pensem apenas neles enquanto milhares de anônimos e abnegados espalhados no país só pensam em quatro palavras: Associação Atlética Ponte Preta.

É amor puro.

Genuino.

Sem cobrança.

Focado apenas no bem estar do próximo.

Assim deveria ser o futebol.

Assim a vida deverá ser conduzida.

O amor, e não o ódio deveria ser a mola propulsora daquilo que vivemos e sentimos a cada rodada, a cada instante em que a bola rola.

Gênio da Bossa Nova e da Musica Popular Brasil, o maestro Antonio Carlos Jobim tem centenas de músicas que acalentam o coração. Existe uma especial: Wave. Lançada em 1968 foi até tema de novela.

E uma estrofe é pura. Sublime. Vale para a vida. Inclusive no futebol. E veja se não encaixa naquilo que é ser pontepretano: “Vou te contar/Os olhos já não podem ver/ Coisas que só o coração pode entender/ Fundamental é mesmo o amor/ É impossivel ser feliz sozinho.

Independente daquilo que acontecer até o final da Série B, algo fica impregnado na alma: é impossivel se sentir sozinho e torcer pela Ponte Preta ao mesmo tempo. A Macaca é paixão, coletivo, empatia, solidariedade. E amor. O que no fundo, é o que importa. Não só no futebol, mas principalmente para a vida. Viva a Ponte Preta. Viva o amor!

(Elias Aredes Junior com foto de Álvaro Junior-Pontepress)