Artigo Especial: o aniversário do Guarani e a saudade de quem nunca deixou de sorrir

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Já escrevi e falei sobre ele. Diversas vezes. A vida não foi simpática com sua trajetória. Ficou atormentado pelo horror das drogas e das bebidas e foi salvo por suas paixões. Pela sua esposa, Graça, e pelo Guarani Futebol Clube. Amava futebol. Tanto que faleceu durante um jogo amistoso da Seleção Brasileira às vésperas da Copa do Mundo de 2006. Samuel Pômpeo era seu nome. Meu tio.

Amava samba, carnaval e o Guarani. Idolatrava Jorge Mendonça. Recordo que quando era chamado por minha mãe para fazer pequenos serviços de carpintaria e pintura, ele passava horas descrevendo as jogadas do time de 1982, com Careca, Jorge Mendonça, Éderson e Zezé. De imediato, aparecia minha tia Natalina. Pontepretana doente. Retrucava. Debatia. Dérbi na sala de casa. Já fiz tal recordação. Mas é sempre bom reprisar. E assim nossas referências não são apagadas.

Inevitável associar o Guarani e o seu aniversário a tais lembranças. Meu tio . Simpatia e humildade em pessoa. Ganhou a vida como funcionário público  na função de gari. Fazia o serviço com zelo e alegria. Tomava sua cervejinha. Não era de ferro. Agarrava-se nos grandes e pequenos prazeres da vida. O Guarani para ele não era prazer ou sofrimento. Era a sua alma.

Acompanhou os dissabores iniciais no século 21 e rebaixamentos. Foi embora desta terra sem esperança de que o time do seu coração pudesse viver uma nova vida. Ficaria feliz em ver a evolução, ainda que tímida.

Aliás, meu tio Samuel não morreu. Está vivo em cada bugrino e bugrina que não deixa de sorrir e nutrir esperanças de dias melhores. Do renascimento da esperança e das vitórias. Da reconstrução de um clube calcado em conquistas e com a consciência de posicionar-se diante de chagas sociais como a pobreza, racismo, machismo e outros males. Um clube deveria lutar para que não dependa mais do martelo de um juiz ou de disputas políticas infrutíferas. Caminhe com suas próprias pernas. E de mãos dadas com seu povo.

Neste dia 02 de abril é dia de celebrar. Recordar as glórias. Mas com pés no chão e com  humildade em saber que existe um caminho pedrogoso pela frente. E que só os corajosos podem cumprir. Amor, coragem e humildade. Estes são os presentes que desejamos a um clube centenário. E que nunca vai se apagar. Parabéns Guarani. Saudades meu tio.

(Elias Aredes Junior)