As armadilhas do Campeonato Paulista e a ilusão transmitida aos times médios e pequenos

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As aparências enganam. O fã de futebol acordou com as sensação de que uma revolução foi detonada no Campeonato Paulista. Como explicar a presença de três equipes fora do grupo de gigantes entre os quatro melhores do estado? Calma, para cada um existe uma explicação. Não é completa, mas encaminha muita coisa.

O Red Bull Bragantino, vitimado por um aporte financeiro que surge em seus cofres desde 2019 é quase um gigante. Tem orçamento, poucas dívidas e já chegou em final de Copa Sul-Americana. Ou seja, já é a quinta força do estado de São Paulo. Ocupa um lugar que já foi de Guarani, Ponte Preta e Portuguesa.

Quanto a Ituano e Água Santa, as duas equipes tiveram um mérito inquestionável: a de saber explorar as deficiências do regulamento. Em um mundo normal, as equipes de melhor campanhas deveriam ter o empate em suas mãos.

Na prática, uma boa campanha assegura o mando de campo. E só. Como os dirigentes não corrigiram algo tão bizarro no regulamento? Pois é. Como é apenas uma única partida, tanto Netuno como o Galo de Ituano colocaram em prática suas estratégias para levar a decisão das vagas aos pênaltis. É injusto, mas é do jogo. Os dirigentes assinaram o regulamento. Que arquem com as consequências.

Os dois classificados aproveitaram-se de uma nova tendência do futebol brasileiro: os gigantes com rendimento de time médio. Esse perfil encaixa-se no São Paulo, que vive com altos e baixos e precisou dedicar prioridade máxima a disputa da final da Sul-Americana e por motivo claro: não tem time, elenco para sonhar com uma conquista de Campeonato Brasileiro ou para participar de uma final de Libertadores.

Teve lesões?

Contusões?

Tudo isso é verdade. Os substitutos estão aquém da tradição histórica do São Paulo. Fato.

E o Corinthians? Talvez é aquele com maior perspectiva financeira para encarar Palmeiras e Flamengo mas precisa equacionar suas dividas. Sem tal resolução, é impossível sonhar com dias melhores e que tenha possibilidade de chegar ao olimpo.

Então os times do interior vieram para surpreender e ficar?

Nem tanto.

Como a Ponte Preta está na Série A-2 e o Guarani contenta-se desde 2019 em disputar a manutenção na competição, o que se verifica é uma autentica gangorra.

A atual formula de disputa está em vigor desde 2014, quando o Ituano sagrou-se campeão no estádio do Pacaembu diante do Santos.

Desde essa época, são 10 edições do torneio com quartas de final e final. Em relação aos 40 times presentes nas semifinais neste período, em apenas 11 vezes, as vagas foram ocupadas por times fora dos quatro gigantes. Basta conferir a lista: Penapolense, Água Santa e Audax participaram uma vez enquanto Ponte Preta, Mirassol, Ituano e Red Bull Bragantino tem duas participações em semifinais do Paulista.

Ao mesmo tempo que essa listagem revela um grupo restrito e pequena, três equipes podem ser apontadas como protagonistas de trabalho constante e planejado, que são Mirassol, Ituano e Red Bull Bragantino. No caso da Ponte Preta, foram duas participações com campanhas ocasiões e com características distintas. O desempenho de 2017 foi reflexo da boa campanha do Brasileirão de 2016 sob o comando de Eduardo Baptista enquanto que em 2020 a pandemia e um bom desempenho nas quartas de final contra o Santos explicam o quadro.

O quadro apresentado é complexo e intrincado. Temos uma formula de disputa que deixam os times do interior no sufoco em boa parte da fase classificatória porque ficam preocupados com o rebaixamento. Mas também fragiliza os gigantes com jogos únicos nas fases decisivas e sem qualquer vantagem. As camisas do interior podem degustar aqui e ali um prazer fortuito para os times com orçamento menor em relação aos quatro gigantes. Mas são tantas distorções que chegamos a conclusões que não existe nenhuma revolução em andamento. O futebol paulista, com muita boa vontade, anda de lado. E isso não é nada positivo para o próprio futebol brasileiro.

(Elias Aredes Junior com foto de Mauro Horita/Ag.Paulistão)