Goleiros fazem a festa na fase decisiva do Paulistão. Por que não deram certo no futebol campineiro?

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Os dois principais personagens das quartas de final do Campeonato Paulista desempenham a função de tirar a alegria do torcedor adversário. No domingo, diante de uma Neo Quimica Arena lotado o arqueiro Jefferson Paulino foi fundamental para o Ituano conseguir a classificação contra o Corinthians. No dia seguinte, Ygor Vinhas teve desempenho emblemático e comemorou a passagem do Água para as semifinais após ultrapassar o São Paulo no Allianz Park.

Ygor Vinhas e Jefferson Paulino são velhos conhecidos do futebol campineiro. Ygor Vinhas fez parte do elenco da Ponte Preta de 2018 a 2022 e tem 78 partidas disputadas com a camisa da Macaca. No ano passado, foi um dos jogadores que participaram da campanha que culminou com o rebaixamento. Foi titulares em dois jogos cruciais. O primeiro dissabor foi na derrota para o Guarani por 3 a 0 no Brinco de Ouro e depois um revés  pelo placar mínimo para o Água Santa, um confronto que era um embate direto contra o descenso. Ironia do destino: em 2022, o Água Santa lhe jogou no abismo. Neste ano, virou o palco de sua redenção.

Jefferson Paulino, por sua vez, atuou  de 2019 a 2020 e nunca se firmou como ídolo entre os torcedores bugrinos. Sempre foi olhado com desconfiança. Chegou até a gerar interesse da Ponte Preta. Nada feito. Passou por Internacional de Limeira e encontrou a glória no Galo de Itu.

O rendimento excepcional dos dois goleiros em partidas de alta complexidade gera uma duvida no ar: por que existe tanta dificuldade para alguns jogadores conseguirem se firmar no futebol campineiro?

Tenho duas teses. A primeira é que muito difícil jogar aqui. Os torcedores vivem em uma fissura incessante de retorno ao passado e não tem paciência para frutos aparecerem. Ou que algum jogador se desenvolva em quatro ou cinco meses.

Nada disso. É rendimento máximo. No caso dos goleiros citados é bom que seja dito: Jefferson Paulino pegou uma fase de transição no Guarani com zagueiros de qualidade técnica ruim e que lhe deixavam em saias justas. Lógico, o arqueiro tinha deficiências, mas eram potencializadas pela falta de planejamento no futebol bugrino.

Quanto a Ygor Vinhas, não há como ignorar que ele viveu sob uma forte concorrência, no caso do goleiro Ivan Quarema, hoje no Vasco da Gama. Goleiro precisa de sequência e confiança. E isso Ygor Vinhas não recebeu em nenhum momento.

Triunfar no futebol campineiro já é uma missão difícil. Com tais obstáculos fica ainda pior.

Existe um outro motivo que poucos levam em conta. Quando você atua em município com uma única equipe, o sentimento da torcida é de solidariedade e apoio ao jogador. Porque ele representa a cidade. Ele não convive com o ódio. Excetuando-se as derrotas. Quando você trabalha em uma cidade com duas equipes rivais, o quadro muda. Radicalmente.

Você não pode ser apenas melhor e conseguir vitórias. Tem obrigação que  fazer uma campanha exitosa e superior ao time que disputa espaço na mesma cidade. A pressão é forte e não se pode falhar. Alguns superam o processo. Outros são massacrados. Ponte Preta e Guarani não são os únicos detentores desse facão da bola. A dupla Grenal, Atlético Mineiro e Cruzeiro e Bahia e Vitória são algumas rivalidades somente destinadas aos fortes.

Futebol é um retrato da vida. Derrotas, vitórias e ensinamentos. Ygor Vinhas e Jefferson Paulista protagonizaram lances azedos nos estádios separados pela Avenida Airton Senna. Agora, desfrutam do reconhecimento. Que aproveitem ao máximo.

(Elias Aredes Junior com Rubens Chiri/Saopaulofc.net)