Observei um fenômeno interessante na semana passada. Quando na terça-feira o Diário Oficial do Municipio de Campinas publicou a decisão que indeferia a construção da Arena Ponte Preta, vários adeptos de José Armando Abdalla, Gustavo Valio e da atual diretoria executiva encheram as redes sociais para dar os parabéns aos dirigentes e dizendo que esta decisão lhes contemplava merecidamente, pois eles eram pontepretanos autênticos.
Três dias depois, após a reunião de Jonas Donizete com um grupo de cinco pontepretanos, entre eles Sérgio Carnielli, Tiãozinho, Pedro Maciel Neto e Tagino Alves dos Santos, a internet virou palco de celebração. Internautas diziam que eles sim eram os “verdadeiros pontepretanos” por lutarem pela construção da Arena no Jardim Eulina.
Tais declarações tanto de um lado como de outro são de uma incoerência absurda. Não existem “pontepretanos supremos” ou gente que merece ser endeusada. Condição econômica, social, histórica de vida, nenhum argumento justifica para que alguém se julgue mais pontepretano do que outro.
Pedro Antonio Chaib não é mais pontepretano que Lauro Moraes. Marcos Garcia Costa não é mais pontepretano que Renata Sanches. Ou ela não é superior a Rosana Grigoleto ou as irmãs Dalva e Luiza. Os fundadores do clube não poderiam se considerar melhores do que Moisés Lucarelli, que entregou sua vida para viabilizar um estádio.
Donana ou Conceição jamais poderiam reivindicar uma paixão mais legitimada do que minha tia Natalina ou que meus falecidos tios Enoch e Oady.
Ser pontepretano não é título. Não é condecoração. Não é máscara de soberba, prepotência ou arrogância.
Torcer pela Ponte Preta é sacerdócio de vida. É reconhecer que a igualdade, fraternidade e afeto se constituem em caminhos para a excelência e com convívio comunitário, sem distinção de poder econômico ou condição social. É saber que o pobre, o desvalido, o operário tem tanto valor quanto o empresário, advogado, político ou ex-jogador que declara sua paixão pelo clube centenário. E que todos podem e devem ser ouvidos e respeitados. Sem espaço para chacota.
Enquanto dois grupos políticos engalfinham-se e destilam ódio de parte a parte por causa da construção de uma arena, valores fundamentais são perdidos. A comemoração de um gol, o abraço descompromissado pela vitória, o choro, o êxtase pela camisa alvinegra que transborda paixão e emoção.
Homens da situação e da oposição esquecem tudo isso em nome de toneladas e toneladas de cimento. Que podem até representar uma possibilidade de novo tempo, mas jamais será mais protagonista do que aquilo que brota da alma de cada um que anda pelas ruas de Campinas e estufa o peito para falar que torce pela Macaca.
A Ponte Preta não precisa de arena. A Macaca necessita é de compromisso e conexão com a sua história e seu povo. Se isso for obtido a construção de um novo estádio ou a reforma do Majestoso surgirá de maneira natural. Homens que decidem os destinos da Ponte Preta nos gabinetes e no Conselho Deliberativo ou que ainda são influentes: desarmem-se. Vocês são pontepretanos. Não são deuses. Sentem no olimpo das arquibancadas que a paz será celebrada. É o que todos esperam.
(Elias Aredes Junior)