Carta aberta para Gilson Kleina, técnico da Ponte Preta

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Meu bruxo Gilson Kleina:

Gostoso esse cumprimento não é!? Demonstra intimidade, carinho, consideração e solidariedade. Sei que está chateado comigo por causa das críticas que faço neste Só Dérbi e na Rádio Central. Entendo. Compreendo. Por saber que você é feito de carne e de osso. Que respira futebol, mas antes de tudo quer o melhor aos seus filhos, parentes e amigos.

Por conhecer sua índole, caráter e espírito trabalhador é que eu tomei a decisão de lhe escrever. Não pense que não saia gotas de sangue e sofrimento para apontar aquilo que é errado com você. Sou humano e relembro que o ofício duro do jornalismo. De contestar, cobrar, fiscalizar, apontar os erros e ver como prêmio a reprovação do outro lado.

Sou feito de carne e osso. Sou solidário com o sofrimento alheio. Não posso deixar de ficar chateado pela malhação em praça pública feita contigo. Análise de trabalho é uma coisa. Linchamento virtual é outra totalmente diferente. Arrebenta, destrói a autoestima e deixa marcas. E por mais que seja cuca fresca, percebemos que está marcado.

Kleina, o problema, no entanto, não são os torcedores utilizarem as redes sociais para te julgarem e condenarem e sim a ausência de palavra e de postura da diretoria, cujo seus integrantes, bem ou mal estão no Majestoso há 20 anos.

Tomei conhecimento da sua inconformidade com as criticas. Agora te pergunto: o que dizer da falta de proteção e amparo dos seus superiores? Derrota do Bahia, empate com o Avai, revés diante do Atlético Goianiense, paulada diante do Vasco e a atitude é sempre a mesma: te jogam aos leões sem nenhum escudo e que se exploda a sua integridade, a sua história. Eles não poderiam fazer de modo diferente? Sim, poderiam. Claro que sim. Mas não fazem. Por que às vezes degustar o sofrimento alheio em silêncio é confortável para quem sempre viveu no olimpo. Mais do que ninguém Kleina, você sabe que os atuais dirigentes acertam e erram. Mas a omissão ao sofrimento vivido não só pelo funcionário, mas ao ser humano, é algo inadmissível.

Quanto ao autor destas mal traçadas linhas, ele não quer seu mal. Sabe que a diretoria lhe entregou neste Brasileirão um elenco de opções escassas em alguns setores e que muitas vezes lhe deixam na mão.

Exemplo prático: João Lucas, Fernandinho, Jeferson improvisado…como considerar algum acerto na lateral-esquerda? Nisso você não tem culpa. Zero. Fico inconformado com as escalações de Naldo e Jadson e de imediato questiono: por que quem poderia fazer isso não toma providência nenhuma? Pior: somem para que a culpa fique em cima do treinador, o mordomo da ocasião.

Saiba: quando lhe critico não é para pedir sua saída. Nunca. Jamais. O que desejo é a volta do Gilson Kleina contratado em 2011. Aquele capaz com um orçamento ínfimo levar o time a primeira divisão. Um cara que na penúltima rodada da Série B de 2011, quando a Ponte Preta fez o gol contra o ABC saiu do banco de reservas e foi comemorar no alambrado com o torcedor. Inesquecível, não é verdade!?

Um cara que não reclamou e no ano seguinte extraiu competitividade no Brasileiro de um elenco com figuras como Tony, André Luis e Gerônimo. Foi para campo e trabalhou, trabalhou, trabalhou e os frutos apareceram.

Não, não pense que considero que existe na atualidade uma diminuição no seu ritmo de trabalho. Sei que está de cabeça enfiada no dia a dia do Majestoso. Sei que deseja o melhor para a Ponte Preta e imagino o seu sofrimento ao verificar que aquela torcida, que um dia lhe aplaudiu há cinco anos e quase lhe carregou em triunfo ao chegar na final do Campeonato Paulista quer lhe ver pelas costas. Ingratidão? Esquecimento?É o futebol. Infelizmente.

Qual a saída? Faça aquilo que sabe: ouvir, refletir, reciclar e ir para o campo. Se possível não ter medo de arriscar um novo sistema de jogo. Se as jogadas ensaiadas são planejadas durante a semana, cobre do elenco a execução. Se as triangulações são treinadas e não acontece nos 90 minutos, não tenha receio de requisitar uma mudança de postura.

Uma pessoa com um currículo como o seu, com tamanha experiência e credibilidade não pode passar por tamanha tempestade. O treinador Gilson Kleina não merece. O ser humano, pai de família, filho e amigo Gilson Kleina não merece.

Esqueça os gritos de Fora Kleina. Apague da memória a insensibilidade dos dirigentes que não te protegem. Acredite em você, no seu potencial e talento. Junto com seu caráter, certamente a inversão de expectativa será uma realidade não só para ti como para a torcida da Ponte Preta, clube no qual está cravado na história.

 

Um abraço com estima do

Elias Aredes Junior

29/08/2017