Cristina e Tânia: exemplos positivos daquilo que deveria ser o Guarani

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Quinta-feira, dia 28 de junho, foi dia de festa no Guarani. Lançamento do novo uniforme. Bajulações, tapinhas nas costas de dirigentes e ex-jogadores, fotos para colocar nas redes sociais e um desfile para coroar uma noite de glamour. Requinte para destacar uma marca poderosa. Gente de tudo quanto é origem: pobre, ricos, classe média, operários, desempregados… Um mosaico para expor a diversidade de um clube sofrido nos últimos anos.

Amoroso foi o astro supremo.. Desfilou com as camisas novas. Aplausos entusiasmados. Mais de 400 fotos colocadas pela assessoria de imprensa no Flickr, uma página destinada a fotografias e artes.

Ao verificar as fotos, duas pessoas chamam minha atenção. Mulheres. Guerreiras. Cara e alma de Guarani. Seus nomes: Tânia Regina Cardoso Santana, a “Tia Tânia”, e Cristina Massotti.

O futebol é pano de fundo para histórias redentoras. De gente que não está interessada em dinheiro, fama, interesses ou atos inconsequentes. Só querem amar o Guarani. Sem cessar.

Tânia (na foto da capa é a primeira da esquerda para a direita) indiretamente tem ligação com minha família. Após alguns anos, tomei conhecimento de que ela, durante alguns anos proprietária de uma fornitura no centro da cidade, atendia meu falecido pai com atenção e carinho. Escrever e descrever tudo isso me traz emoção. Tenho convicção de que tratou meu pai como trata o Guarani e seus amigos e sua família: paixão, entrega, força, vitalidade e alma.

Tais ingredientes fizeram Tânia largar tudo e acompanhar o Guarani. Não na fase de ouro das décadas de 1970, 1980 e 1990. Tânia era bugrina quando para muitos era motivo de vergonha. Mostrava seu amor e sua camisa branca ou verde por estádios do país inteiro. Seu rosto parecia impregnado em cada transmissão pela televisão de Série A2, Série C… Como medir tamanha paixão? Não se mede. Vive-se. Tânia vive em plenitude. Sem pedir nada em troca.

O que dizer então de Cristina (na foto é a primeira da direita para a esquerda)? Por trás daquela mulher despachada, bem humorada e dedicada ao Guarani existe uma história de superação. Perdeu o marido muito cedo e não teve pudor em arregaçar as mangas e criou os dois filhos. Sem perder de vista o seu amor pelo Guarani. Cansei de trabalhar na sala de imprensa do Guarani até altas horas e ver Cristina sair junto com Michele, sua filha, para sua residência. Simples, humilde e acolhedora. Até hoje comemora cada vitória do Alviverde como se fosse uma conquista de sua família.

Ao olhar as fotos das duas na festa de lançamento de uniforme do Guarani, eu imagino quanta energia é desperdiçada por dirigentes e ex-jogadores. Vaidade, ambição e poder, por vezes, deixa aquela camisa nova, estilosa e iluminada em segundo plano.

Cristina e Tânia provam com suas vidas aquilo que o Guarani deveria ser: uma comunidade fundamentada na emoção, no amor, no altruísmo, na força e no combate a flagelos da sociedade como a discriminações contra minorias.

Cada grito de gol deveria conter o componente presente nos corações destas duas bugrinas: amor pelo clube. Nada mais. Cristina e Tânia me fazem crer da escolha correta da minha linha de trabalho. Não desejo aplausos de dirigentes, jogadores, ex-jogadores e até de técnicos. A receptividade do torcedor anônimo me basta.

Que da próxima vez a Topper entenda que ex-jogadores viabilizaram glórias inesquecíveis. Mas são torcedoras como Tânia e Cristina fornecem o sangue que irriga o coração de uma agremiação, cuja esperança, o amor e a família estão no seu DNA. Que a dupla desfile na próxima apresentação do uniforme oficial. De preferência com a camisa 10.

(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)