No final de novembro do ano passado, a Ponte Preta já sabia que disputaria a Série B em 2018. Os dirigentes também tinham conhecimento de outros dois fatos: a inevitável queda do orçamento e a impopularidade aguda tanto de Gustavo Bueno como do técnico Eduardo Baptista. Apesar dos alaridos das ruas e das redes sociais, os contratos de ambos foram mantidos e o Campeonato Paulista virou o martírio da vez. A lição que fica é básica: a Ponte Preta é de sua torcida. Sem seu respaldo é quase impossível qualquer profissional colher frutos.
Se não for o treinador, que seja o responsável pelo futebol, cujo respaldo viabiliza um período de trégua. Com Marco Antonio Eberlim e Márcio Della Volpe aconteceu desta maneira, apesar de alguns erros e instantes críticos.
Se não querem dar a mão à palmatória em relação à competência dos atuais oposicionistas, então que Sérgio Carnielli e sua diretoria aguce a memória e relembre os cases de sucesso.
O vice-campeonato paulista de 2008 só ocorreu em parte devido ao carisma e identificação do ex-goleiro Sérgio Guedes com os pontepretanos. Três anos depois, a simpatia, a paciência e as frases de efeito de Gilson Kleina foram fundamentais para atrair o torcedor para o seu lado e viabilizar o acesso na Série B e a semifinal do Paulistão do ano seguinte.
Quando retornou à Macaca, em 2014, Guto Ferreira era sinônimo de seriedade, competência e de trabalho de médio e longo e prazo. Ganhou o respeito de muitos torcedores. Tanto que foi vice-campeão na segundona nacional, alcançou as quartas de final do Paulistão de 2015 e só foi demitido no Brasileirão quando sua metodologia de trabalho não fazia mais efeito. Que ninguém se iluda: para boa parte da torcida, saiu com as portas abertas. Nem vou fazer de Jorginho e o vice-campeonato da Sul-Americana porque será chover no molhado.
O que desejo dizer com tais argumentos? Que o próximo escolhido não deve ser apenas um treinador capacitado e com uma filosofia de jogo adequada a Série B. São quesitos essenciais, mas não são suficientes. Também há demanda por alguém com uma personalidade preparada para conectar-se com o torcedor, entender as suas carências e a história e o sentido da Ponte Preta. Não, não há necessidade de ser de Campinas. Sensibilidade é a palavra.
Porque por maior que seja o esforço de Sérgio Carnielli e da sua diretoria para ser autônoma em relação à vontade de quem empunha a bandeira e paga o ingresso, um fato é inescapável: a torcida é proprietária da Ponte Preta. Quem quiser nadar contra a corrente história vai se afogar na mediocridade e na ambição vazia. Pode acreditar.
(análise feita por Elias Aredes Junior)