A principal caracteristica do dérbi, protagonizado por Ponte Preta e Guarani, é que ele sempre recebe um apelido que entra para a eternidade. Em 1981, a vitória da Macaca por 3 a 2 recebeu a alcunha do “Dérbi do Século” ou o clássico em que Birigui virou vilão. Também não podemos esquecer do jogo do Dario Gigena em 2003 no Brinco de Ouro ou de Weldon em 2004 no Majestoso.
No Guarani, não existe o dérbi do século ou o jogo que classificou a equipe para a final do Paulistão de 2012. Existe o dérbi do Médina. Ou o clássico que quebrou o tabu em 2020. Ou ainda o “dérbi das 100 faltas” realizado em 1999. Exemplos não faltam de titulos dados.
Como deve ser apelidado o Dérbi de número 203, realizado no domingo á tarde e que terminou empatado por 0 a 0 ? Poderiamos apontar como o duelo de Caíque França ou de Léo Naldi pela Ponte Preta ou do gol perdido de Lucão do Break. Nada disso. Este é o Dérbi do Choque de Realidade. Sim, é isso que você leu.
Verdade nua e crua é que nos ultimos anos o principal jogo do interior do estado de São Paulo sempre serviu como cortina de fumaça para escamotear falhas e mazelas dos dirigentes, seja de um lado ou de outro. Pode até ficar ameaçado de rebaixamento. Ou perder um título. Se vencer o rival que tudo estará perdoado. Absurdo.
Dessa vez não há como fugir da verdade. Não dá para transformar mentiras acadêmicas em verdades absolutas. Os 90 minutos disputados no Brinco de Ouro mostraram uma verdade nua e crua: duas equipes fadadas a permanecerem na zona intermediária da Série B do Campeonato Brasileiro. Isso se não lutarem contra a degola até o final.
Sim, é verdade, a situação da Ponte Preta é um pouco melhor. Tem uma equipe mais arrumada, com disposição física e conta com um técnico que sabe exatamente o que quer e onde pretende chegar. Isso, no entanto, é insuficiente para esconder as limitações de um time incapaz de atacar o oponente nos 90 minutos e que conta com reservas de qualidade técnica bem abaixo dos titulares. Sem contar que quando Lucca não é acionado, tudo fica sem saída.
Hélio dos Anjos tem razão quando diz em alto e bom som que sob o seu comando, a Macaca não vai passar por sustos. Mas também é verdade que o seu cobertor é curto. E rasgado em alguns pedaços. É impossivel cravar de que esse time pode encarar de igual para igual times como Cruzeiro, Bahia e outros menos cotados. Deve focar em vencer as equipes que buscam a permanência. Já estará de bom tamanho.
E o Guarani? Quadro delicado. Está próximo da zona do rebaixamento, tem apenas três gols anotados e simplesmente não tem técnico efetivo. A cara do improviso. E os profissionais até o momento são profissionais até da nova geração, como Matheus Costa, mas encontram-se na terceira prateleira.
O clássico deixou escancarada as limitações do elenco montado pelo Superintendente Executivo de Futebol, Michel Alves. Nada se completa.
Alguns tem velocidade, mas inexistem quando o assunto é poder de conclusão, como Yago; outros só podem oferecer luta e entrega, como Nicolas Careca. Sem contar a zaga, em que a qualidade infelizmente está longe do padrão exigido pela Série B. Como ter esperança no futuro? Como apostar em dias melhores? Díficil. Se ficar longe do Z4 ao final da competição já terá sido lucro.
Crianças e jovens podem até duvidar. Mas este jogo já parou o Brasil. Exibia craques aos montes. Os clubes forneciam talentos como uma fábrica com poder inesgotável. Hoje, Ponte Preta e Guarani, Guarani e Ponte Preta não são protagonistas. Nem possuem capacidade para serem coadjuvantes de luxo. A luta até o final é para ser um figurante de luxo. Com um destaque aqui e ali. Mas no final dos créditos deste filme chamado Série B. Convenhamos: é muito triste.
(Elias Aredes Junior-foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)