Homens, mulheres e crianças. Pessoas que reclamam de terem seus ingressos rasgados por agentes públicos. Quanto mais o tempo passa, maior fica a atrocidade cometida pelas autoridades e forças de segurança do estado no dérbi realizado neste sábado no Brinco de Ouro. Detalhe: até agora nenhuma manifestação por parte do Conselho de Administração.
Os torcedores pontepretanos reclamam que os policiais militares cometem abusos contra eles. Bugrinos acusam que estão sempre desprotegidos. Ambos têm razão.
O cenário descrito é sintoma de um evento largado, sem planejamento e foco. A prefeitura cumpre um serviço de praxe, mas sem envolvimento. Tanto que a Setec foi severamente criticada pela torcida bugrina.
Dérbi é o típico jogo que deve ser sentido e vivido com, no mínimo, duas semanas de antecedência. E a grande culpa por essa perda de foco é da instituição da torcida única.
Explico: em cada turno, apenas uma torcida fica mobilizada. Pensa e respira o jogo. O adversário, banido das arquibancadas, tem como preocupação encontrar uma chácara, um sitio, um local para assistir ao jogo. Assiste, mas não vive na plenitude.
Lembram como era antigamente? O comando da Polícia Militar fazia reuniões rotineiras com os chefes de torcida organizadas. Era combinado o trajeto de cada torcida, a quantidade de visitantes, quando iria sair do estádio adversário, quando iria entrar…As ações eram planejadas para que os torcedores que não entrassem no estádio estivessem mobilizados para dar suporte aos agraciados.
Ao mesmo tempo, o prefeito local fazia uma ação beneficente com os capitães das equipes para que o perdedor encaminhasse donativos a uma instituição de caridade.
O derbi existia de fato e de direito. Na atualidade, desperdiçou-se até uma chance de instituir um troféu, um prêmio para quem somasse mais pontos nos três clássicos realizados.
Então como tudo transmite a impressão de ser feito pela metade, o resultado é que lacunas são deixadas para que a violência apareça e faça vitimas. Não custa lembrar: de acordo com o professor Mauricio Murad, apenas 5% dos torcedores organizados são envolvidos em atos de violência dentro e fora dos estádios. Em Campinas, encontrou-se uma saída original: a realização de um trabalho meia boca e que vigia sequer o pequeno contingente atingido. Uma pena. (Elias Aredes Junior)