Em um comunicado nesta segunda-feira, a Federação Paulista de Futebol, em linhas gerais, admitiu que as principais divisões locais vão ficar paralisadas e que a bola pode voltar a rolar no dia 31 de março. O texto também é uma confissão de derrota. Apesar de não encontrar-se explicito. Mas é.
Reinaldo Carneiro Bastos perdeu a batalha da comunicação. De goleada. Não conseguiu convencer a opinião pública sobre a validade da continuidade da competição.
Erros estratégicos foram cometidos. Talvez o principal foi que o defensor nas entrevistas, o próprio presidente da FPF, foi uma pessoa distante e sem presença na mídia.
Com a escalação do vice-presidente Mauro Silva, talvez o destino fosse diferente. Certamente muitos iriam parar e ouvir. Não seria um dirigente, e sim um ex-jogador campeão do mundo nos Estados Unidos. Tem outro peso.
A Federação Paulista errou ao tentar colocar debaixo do tapete o distanciamento do futebol em relação ao que acontece nas ruas. Não tinha emoção, empatia, solidariedade nas declarações. Afinal tem Corinthiano, são paulino, bugrino, pontepretano, santista, palmeirense nas filas de hospitais. Muitos sem um leito de UTI. Se você não se importa com aquilo que acontece comigo, qual a razão para que eu abrace a sua reivindicação? Pois é.
A falta de ideias é outro ponto. Voltar o futebol é o único caminho? Só assim para garantir o pagamento dos salários de atletas, comissões técnicas e principalmente dos funcionários? Só isso? Por que nunca se pensou e pressionar para valer a Rede Globo? O que impedia de conversar com o governo federal, juntamente com outras federações, para que os trabalhadores de salários baixos e que atuam nos clubes fossem incluídos no auxilio emergencial? Por que ninguém pensou nisso?
Para completar o cardápio, o papel do neurocientista Miguel Nicolelis. Suas entrevistas no Redação Sportv e no Mesa Redonda da TV Gazeta foram devastadoras. Com argumentos técnicos e científicos, o renomado cientista trucidou qualquer tentativa de convencer a opinião pública de que o retorno ao futebol é válido e necessário.
Junte esses fatos com a falta de empatia e emoção das pessoas envolvidas no futebol para concluir que a resistência da Federação contra a medida do Governo do Estado durou tempo demais.
(Elias Aredes Junior)