Está na moda criticar a imprensa. Seja a pessoa de direita ou esquerda. Acreditam que exterminar jornalistas é o caminho para um país saudável. Sinto-lhes dizer, mas a história transmite o contrário. Devemos exigir sim profissionais mais capacitados, formados, com atenção aos princípios técnicos da profissão, entre outros predicados. Critérios adquiridos na faculdade, diga-se de passagem e não em redes sociais.
Os torcedores do Guarani estão chateados com a “Folha de S. Paulo”. Não gostaram do teor da reportagem “Indigenas questionam tradicional apelido Bugre do Guarani” e publicada na edição de sábado.
Deixo claro: os torcedores estão certos em ficarem chateados. Vou repetir: os torcedores do Guarani Futebol Clube podem e tem direito de ficarem incomodados. Mas esqueceram de um lado da questão.
Bem, para aqueles que adoram meter o pau em jornalistas, desvalorizam a formação acadêmica desses profissionais – e isso existe na esquerda e na direita- vou explicar didaticamente.
Reportagens surgem de diversas formas. Ou em um dado colhido de um livro, um depoimento perdido na internet ou quando a própria fonte procura o jornal ou a instituição de comunicação. A fonte passa as informações e um chefe de reportagem ou pauteiro decide se aquilo tem validade ou não para ser noticia.
O repórter escalado escolhe uma série de fontes para determinar e alinhavar o texto em si. Acabou? Não. Após o texto pronto, um editor lê a reportagem, acrescenta ou exclui informações, pedem mais dados e finaliza o texto.
Mesmo com todos estes filtros, muitas matérias sair aquém do desejado? Sim. Mas outros fatores são envolvidos como o interesse da publicação, linha ideológica do jornal entre outros fatores.
Para começar a criticar é preciso ler a matéria. E entender que quem reclama do apelido Bugre não é o jornal Folha de S. Paulo e nem o repórter e sim uma das personagens da matéria, de nome Graciela, uma índia Guarani. Ela procurou o jornal? Não procurou? Não sei. Mas quem dá o norte é ela, além de outra indígena chamada Kellen. Acadêmicos e especialistas nas tribos Guarani dão o verniz intelectual a reportagem.
Agora, existe um dado fundamental. E que poucos se deram conta. No pé da matéria, está escrito de modo claro: “(…) O Guarani foi procurado pela reportagem para se posicionar sobre o tema e preferiu não enviar uma resposta (…)” Ou seja, a instituição Guarani não quis responder sobre uma matéria em que era foco.
Teria uma resposta? Sim. Como mostrou em suas redes sociais Fernando Pereira que é um estudioso da história do clube. “(…) o apelido bugre foi dado ao Guarani F.C por seus adversários, em meados da década de 1910, justamente com conotação pejorativa e adotado pelo clube em 1919 para que tivesse um outro sentido. O mesmo aconteceria muito tempo tempo depois com o “Urubu”, o “o Porco” e a “Macaca”, entre outros (…)”.
Limpe a baba de ódio contra a imprensa que está na sua boca e responda: se o repórter tivesse acesso a essa resposta a chance de alterar a linha do texto não seria alta? E se não mudasse? Aí, o torcedor ficaria chateado e teria todo o motivo para dizer que o repórter seria mal intencionado, porque ele tinha explicação coerente na mão e não fez a correção de rota. Só que ele não teve tal informação.
A imprensa brasileira,seja esportiva ou não, tem inúmeros defeitos. Problemas de concepção, formação e de competência. Agora, você, consumidor de notícia, precisa adotar um critério: pensar. Refletir. Fazer conexões. O ódio impede o raciocínio e o entendimento. Devemos cobrar sim. Mas na direção correta. Pense nisso.
(Elias Aredes Junior)