Quanto mais a gente conhece algumas áreas da vida, alguns ficam mais claros. O principal: nada acontece do dia para a noite. Nada surge como mágica. A vida é um processo. A cada dia você coloca um tijolo, uma argamassa, uma peça que desnuda e abre caminhos.
No futebol não é diferente. O resultado que é colhido no gramado é a consequência direta daquilo que você plantou. E mesmo que você tenha colocado a mão na massa, se algo der errado, não há saída: você precisa recomeçar e buscar outros métodos. Não dá para ter compromisso com o erro.
Vamos trilhar o lado otimista. O presidente do Guarani, Ricardo Moisés, sempre tentou dialogar com os dirigentes de Federações e da CBF, nunca se furtou a encaminhar as reivindicações do clube e nunca esteve ausente dos bastidores. Ok. Vamos adotar tal conceito como verdade.
Só que depois dos acontecimentos que culminaram com o sorteio entre Guarani e Criciúma por uma vaga na Copa do Brasil, fica claro que algo precisa ser repensado sobre a atuação do clube nos bastidores e no relacionamento com as instâncias superiores.
Primeiramente, um recado ao torcedor alienado: futebol também é política, relacionamento e influência e capacidade de aglutinação. Sim. Quem abraçar apenas as quatro linhas está fadado ao fracasso.
Veja: existiam várias alternativas para decidir quem ficaria com a vaga da Copa do Brasil. Por ser uma situação inédita, algo poderia ser feito com prejuízo mínimo aos clubes. Como assim? Vamos lá. Um jogo extra, por exemplo, traria até um muxoxo entre as duas equipes, mas pelo menos o campo decide.
Algo mais justo e lógico. Bem, você pode alegrar que a decisão primária de excluir o Guarani foi da Federação Paulista. Nesse caso, existiriam mil motivos para que, na pior das hipóteses, fosse disputado um jogo extra entre Guarani e Botafogo para ver quem era o mais habilitado.
Ou convencer o comando da Federação de que o Guarani seria merecedor da vaga. Ou fazer o jogo desempate entre Guarani e Criciúma com pagamento de cota da competição nacional. Ou vocês acham que dois ou três milhões de reais faria falta aos cofres da CBF? Claro que não.
Mas a CBF optou pelo sorteio. Não ouviu o argumento de ninguém. E faz o Guarani apelar à Justiça Desportiva. O clube está certo. Deve e pode lutar pelos seus direitos. Mas é inegável que esse acontecimento demonstra ausência de articulação política. Ou falha no processo de construção de relacionamentos.
Ou vocês acham que em conjuntura semelhante equipes como Red Bull Bragantino, Athletico-PR, Fortaleza, Bahia, sofrem tamanho atropelo nos gabinetes? Dos gigantes nacionais nem vou falar porque todos sabem a resposta.
Acredito que as ações judiciais, apesar de serem justas, dificilmente terão um final feliz. Mais importante do que contar com bons advogados o vital é refletir e pensar o que deu errado nestes últimos anos para que a palavra da direção bugrina tivesse uma ressonância tão fraca.
Futebol também é política. E quem pratica boa política evita que tudo termine em uma bolinha na mão de um desconhecido.
(Elias Aredes Junior- com foto de Thais Magalhães/CBF)