Horley Senna sempre apareceu como uma figura emblemática na vida do Guarani. Assumiu a presidência do clube em outubro de 2014 e repassou ao ex-braço direito em agosto deste ano. Neste período, conquistou o acesso na Série C, provocou o principal rival e introduziu grandes capítulos da novela envolvendo o leilão do Brinco de Ouro.
Após apoiar publicamente Palmeron, Senna não ganhou o espaço que esperava e foi se distanciando do atual Conselho de Administração. Na última semana, foi desligado pela diretoria das funções de gestor da categoria de base e rompeu de forma definitiva com a chapa que apoiou.
Em papo exclusivo com o Só Dérbi, Horley falou sobre as mudanças no ambiente do clube e outros assuntos ligados ao administrativo do Guarani.
Como você enxerga seu isolamento dentro do Guarani após deixar a presidência?
Eu aprendi com a minha família que nós temos que respeitar a opinião alheia. Se eles (Conselho de Administração) não me querem participando do trabalho da atual gestão do Guarani, quem sou para dizer o contrário? A única coisa que eu lamento é a forma como fizeram. Não vou negar que estou chateado e decepcionado. Foi uma falta de consideração e respeito, assim como fizeram com Ney da Matta, Vadão e Marcus Vinicius. Não tiveram escrúpulos e hombridade. Não havia nada que obstruiria meu trabalho, mas me tiraram e não tiveram a hombridade de olhar no meu olho para falar que eu não fazia mais parte. Fiquei sabendo da saída pela imprensa. Minha insatisfação é pelo modo como fui tirado.
O que mudou na sua relação com o presidente Palmeron Mendes Filho?
O que eu posso dizer é que ele jogou no lixo uma amizade de quase trinta anos. Eu tenho que respeitar a decisão dele, mas não tenho como aceitar o modo como ele conduziu as coisas comigo. A minha parte foi feita e quando eu estava na presidência ele sempre teve participação. Eu fui leal, mas ele não está sendo. Ele alega, inclusive, que alguns membros do Conselho de Administração, que ficaram sócios há um ano, não me querem lá. Independente do posicionamento, faltou ser um pouco mais homem. Não tem mais amizade, contato, mais nada… É uma relação que se desgastou há muito tempo e não é de hoje.
Na sua avaliação, entre todos os erros da atual gestão, a demissão de Vadão foi o maior deles?
Não só a demissão do Vadão, mas a do Ney da Matta também, pois estávamos no G4 na Série A2. Eu estava debilitado e internado quando o Palmeron, auxiliado pelo atual vice e pelo ex-superintendente, acharam que deveriam demitir o Ney. O erro veio de lá e comprometeu todo trabalho no Campeonato Paulista, inclusive com a possibilidade de classificação. Depois contrataram o Barbieri e vocês sabem a consequência. E foi o mesmo com o Vadão. Entreguei a presidência definitivamente no dia 31 de agosto, na partida contra o Inter, no encerramento do turno. A partir dali, o Guarani obteve apenas duas vitórias: contra Juventude e CRB. Se não fosse o Vadão, com certeza estaríamos amargando um novo rebaixamento. Mas independente dos erros ou acertos, eu torço para o sucesso deles porque, consequentemente, representa o sucesso do Guarani.
Você estuda voltar ao cenário político do clube futuramente como presidente?
Eu não tenho essa pretensão atualmente. Eu tinha a possibilidade de tentar a reeleição neste ano, mas optei por passar o bastão e apoiei o atual presente por vontade própria. Mas o destino a Deus pertence. Hoje, minha ideia é cuidar dos meus pais, pois a situação clínica não anda bem com eles. Não dá para pensar no Guarani como presidente agora.
Muito se tem discutido sobre empresas como Magnum e ASA Alumínios assumindo o futebol do Guarani. Você é favorável à terceirização no clube?
Pelo que eu entendi a terceirização seria por dez anos e o investidor, independente de quem seja, entraria com todos os créditos oriundos do futebol, como sócio torcedor, bilheteria, venda de jogador da base, etc. O lucro do Guarani de todos os investimentos seria de 20% durante este período. Mas nestes moldes eu sou contrário. Existem outros modos de lucro. Eu assinei um contrato com o Esporte Interativo para que a partir de 2019 – com o Guarani na Série A -, o time receba R$ 22 milhões por cinco anos. Cheguei a negociar com a Rede Globo por R$ 28 milhões. Conquistei os mesmos patrocinadores atuais quando o time estava na Série C. Então, eu acho que falta um pouco de trabalho dentro da atual gestão. Estão deitando no berço esplêndido e não conseguem abrir novos horizontes.
É preciso sentar e discutir os moldes sobre a terceirização. A atual gestão impôs essa ideia com apelo emocional, falando que não daria para ganhar o dérbi, não tinha mais saídas, mas estão apenas há quatro meses lá. Eu acredito que na Série B, se os gestores trabalharem – o que eu não estou vendo -, eles conseguem captar novos patrocinadores. Não pode comprometer dez anos de vida do Guarani por essas convicções, então que se faça a terceirização no período do mandato. Nos moldes propostos eu sou contrário.
(texto e reportagem: Júlio Nascimento/foto: GuaraniPress)